Em entrevista à Lusa, Isaías Samakuva sublinhou que "ainda é muito cedo para fazer-se um balanço" sobre a presidência de João Lourenço, mas apontou "alguma lentidão ou então dificuldades em implementar o discurso" do chefe de Estado.
"De facto, algum otimismo ou alguma expectativa positiva que tínhamos está a ganhar já alguns laivos de pessimismo. Pelo menos, está-se a levar tempo para se implementar algumas intenções que o Presidente atual prometeu", afirmou.
O líder do maior partido da oposição identificou aspetos relacionados com a educação, a saúde e a situação económica, na qual "o ceticismo começa a apoderar-se das pessoas" e até "algum desespero" porque "as empresas continuam a falir".
"A situação económica está muito difícil no país e, em vez de melhorar, nós vemos a sua deterioração em cada dia que passa", considerou, apontando que o desemprego "continua a aumentar" e que "está tudo parado" ao nível das promessas de "alguma abertura dos bancos" na questão de acesso ao crédito.
No setor da saúde, Isaías Samakuva apontou "as mesmas dificuldades do passado", com os hospitais a enfrentarem "dificuldades enormes, não só no equipamento mas até nos medicamentos".
Questionado sobre se é mais fácil ser líder da oposição com o atual Presidente João Lourenço face ao anterior chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, o líder da UNITA disse que "quase que não há diferença nenhuma".
"Tanto com um como com outro, nós estamos a considerar que afinal eles todos são do mesmo partido, conduzem-se consoante a atitude, a filosofia, a cultura desse mesmo partido. Por conseguinte, as diferenças serão apenas táticas e, diria, quase que não há diferença nenhuma", respondeu.
Sobre o afastamento dos filhos do anterior Presidente angolano José Eduardo dos Santos de estruturas estatais - como José Filomeno dos Santos do Fundo Soberano de Angola, Isabel dos Santos da petrolífera Sonangol e Tchizé dos Santos da televisão pública - Isaías Samakuva disse que não pensa que se trate de uma "purga" e que não vê "nada de extraordinário nisso".
"As pessoas estão-se a agarrar a este facto como algo extraordinário, mas eu não vejo nada de extraordinário nisso. O Presidente anterior saiu, veio um novo, naturalmente vai ter de trabalhar com pessoas que conhece, com pessoas da sua escolha. Penso que este é um exercício normalíssimo em qualquer organismo, em qualquer situação", afirmou.
Isaías Samakuva está de passagem por Paris, depois de uma deslocação a Budapeste, na Hungria, para a reunião anual do comité executivo da Internacional Democrata Centrista, e a Madrid e Salamanca, em Espanha, para a reunião anual da União Internacional Democrata.
O regresso a Angola está marcado para sábado.