Num comunicado, a Casa Civil do Presidente da República angolano indica que João Lourenço será um dos oradores no "ato político" marcado para as 12:00 locais (11:00 em Portugal), a par do chefe de Estado da Namíbia e Presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Hage Geingob.
Na mesma iniciativa vão ser condecorados vários participantes na Batalha do Cuíto Cuanavale, com distintas ordens e medalhas, acrescenta-se no documento, que não adianta os nomes dos homenageados.
A SADC celebra no sábado, em Angola, o Dia da Libertação da África Austral, feriado regional que aprovou em agosto de 2018 para assinalar o início da paz na região.
A efeméride decorrerá na localidade angolana do Cuíto Cuanavale (província do Cuando Cubango, sul de Angola) e tem na base o fim daquela que é considerada a mais dura batalha da guerra civil angolana, ocorrida naquela região, e que, segundo a versão das autoridades de Luanda, levou à paz em Angola e abriu portas ao fim do regime de segregação racial ('apartheid') - que então vigorava na África do Sul - e à independência da Namíbia.
O "23 de Março" marca a data do fim da batalha do Cuíto Cuanavale, que decorreu entre 15 de novembro de 1987 e aquele dia de 1988, que opôs os exércitos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), do Governo, apoiados por Cuba, e das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), da UNITA, com apoio da África do Sul.
Segundo a argumentação das autoridades de Luanda, o fim da batalha marcou um ponto de viragem decisivo na guerra (que só terminaria em 2002), incentivando, paralelamente, um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à implementação de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de 'apartheid'.
Por seu lado, a UNITA, em declarações hoje à agência Lusa, considera a celebração da efeméride uma "deturpação da história" por parte do executivo angolano, "apoiada por governos de proximidade ideológica", e que constitui "um elemento de referência propagandístico" que "não faz sentido celebrar" num contexto de reconciliação nacional.
"Não faz sentido em Angola comemorarem-se vitórias e derrotas num momento de reconciliação nacional. Acima de tudo é um elemento de referência propagandístico, indiscutivelmente. Não aconteceu nada daquilo que formal e oficialmente a propaganda traz", referiu hoje Adalberto da Costa Júnior.
"É uma deturpação clara histórica, de continuidade ideológica que, na região, acabou também por ser abraçado por governos de proximidade ideológica. Mas os historiadores vão acabar por escrever a história real. Não estou muito preocupado. Preocupa-me, sim, é, numa altura destas, em que temos desafios de consolidação nacional, comemorar datas de divisão nacional. Não faz sentido nenhum", acrescentou.
Para celebrar a efeméride, o Governo angolano convidou todos os chefes de Estado da SADC para uma cerimónia simbólica, estando confirmada a presença de três deles - Botsuana (Mokgweetsi Masisi), Namíbia (Hage Geingob) e Zâmbia (Edgar Lungu).
Para Angola, a importância da data para a paz definitiva na região, uma das mais estáveis politicamente em África, levou Luanda, então enquanto presidente da SADC, a apresentar uma proposta para inclusão do "23 de Março" como Dia da Libertação de África". A proposta viria a ser aprovada em 18 de agosto de 2018, mas como feriado regional,.
Antes de ser proposta e aceite pelos chefes de Estado e de Governo da SADC, a data foi institucionalizada, em 09 de agosto do mesmo ano, como feriado nacional angolano, aprovada apenas pelos deputados do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A SADC foi criada em 17 de outubro de 1992 e integra Angola, Moçambique, África do Sul, Botsuana, República Democrática do Congo, Essuatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Madagáscar, Malauí, Maurícia, Namíbia, Seychelles, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué.