"É obrigação e nosso dever criar as condições políticas e organizativas para que se possa derrotar o MPLA nas próximas eleições. É o nosso papel, mas sobretudo sem ilusões, porque com certeza que vão fazer outra vez truques, porque é um partido de truques. Cabe-nos, pela experiência vivida, não permitirmos que isso seja possível", afirmou Abel Chivukuvuku.
Chivukuvuku recordou as experiências, que considera "amargas", dos processos eleitorais de 1992, 2008, 2012 e 2017, e acrescentou: "Sabemos todos que em Angola o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975] nunca ganhou as eleições".
"Por isso temos de nos precaver para as eleições de 2022", atirou o coordenador do projeto político do Partido do Renascimento Angola - Juntos por Angola (PRA-JA) Servir Angola.
O político falava em Luanda, durante uma conferência de imprensa conjunta, promovida pelo PRA-JA Servir Angola, a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) e pelo Bloco Democrático (BD), oposição angolana.
Para Abel Chivukuvuku, que viu várias vezes o Tribunal Constitucional chumbar a legalização do seu projeto político, Angola vive um "momento de indigência extraordinária" .
"E exige de todos os seus filhos e atores também uma nova postura, firmeza, de princípios, de coragem, mas sobretudo de muita criatividade para podermos romper os desafios do futuro", notou.
O Presidente angolano anunciou, na semana passada, uma revisão pontual da Constituição com o objetivo, entre outros, de clarificar os mecanismos de fiscalização política, dar direito de voto a residentes no estrangeiro e eliminar o princípio de gradualismo nas autarquias.
João Lourenço, que falava no arranque dos trabalhos da segunda sessão ordinária do Conselho de Ministros, sublinhou que os detalhes das propostas, o seu sentido, alcance e fundamento serão apresentados publicamente.
"Com esta proposta de revisão pontual da Constituição pretende-se preservar a estabilidade dos seus princípios fundamentais, adaptar algumas das suas normas à realidade vigente, mantendo-a ajustada ao contexto político, social e económico, clarificar os mecanismos de fiscalização política e melhorar o relacionamento entre os órgãos de soberania, bem como corrigir algumas insuficiências", destacou.
A proposta de revisão de 40 artigos da Constituição já foi entregue à Assembleia Nacional.
Segundo Abel Chivukuvuku, a proposta de revisão da Constituição "não tem absolutamente nada de cheque mate" para a oposição, como é propalado, por tratar-se de "um mero exercício de cosmética e de polimento".
"Porque estão, ou a confirmar o que já está na Constituição ou a repor o que já esteve e eles tinha tirado. Discutirmos hoje do gradualismo está fora de questão e nem faz sentido, porque só eles próprios é que inventaram o problema a estabelecer o princípio do gradualismo geográfico", afirmou, culpabilizando o partido no poder.
Chivukuvuku referiu que "se o Governo angolano e o partido que o sustenta tivessem coragem e patriotismo" hoje "estaria a ser discutido o modelo do Estado".
"Temos um Estado unitário excessivamente centralizado para um país tão vasto como o nosso e tão diversificado, se quisessem mudar, devíamos é alterar o sistema político angolano, que é um sistema presidencial hiperbólico", considerou.
"Se tivessem coragem, patriotismo e vontade o que estaríamos a discutir agora é o sistema eleitoral, se houvesse coragem devíamos estar agora a discutir a natureza do nosso poder legislativo", vincou.
O líder do PRA-JA Servir Angola exortou ainda os cidadãos a "estarem atentos", ao que considera as "manobras do MPLA", porque é preciso pensar que "estão a meter armadilha num lado qualquer".
"A primeira armadilha que devemos evitar, não nos levem a uma discussão substantiva da revisão da Constituição que lhes permite adiar eleições", rematou.