Marcelo Rebelo de Sousa, que foi questionado em Luanda sobre um editorial da TPA em que os media portugueses foram acusados de "ingerência abusiva", lembrou que também trabalhou "durante décadas" em órgãos de comunicação social e nem sempre foi generoso nas suas intervenções ou comentários políticos "porque é um exercício da liberdade de imprensa".
O Presidente da República afirmou ter sido testemunha em praticamente todos os países africanos de língua oficial portuguesa do exercício da liberdade de imprensa e considerou natural que suscite reações diferentes: "há quem goste mais e há quem goste menos, mas o princípio da liberdade de imprensa deve ser respeitado".
Considerou, por isso, que os comentários de países sobre outros países se incluem na liberdade de imprensa e voltou a lembrar que nas várias funções que desempenhou transmitiu também comentários "por vezes bastante contundentes"
"Quem respeita a liberdade de imprensa tem de respeitar toda, não pode ser seletiva, só quando de lhe é agradável", destacou Marcelo Rebelo de Sousa, rejeitando a existência de qualquer mal-estar em termos políticos entre Portugal e Angola.
"Somos sempre bem recebidos em Angola", vincou, acrescentando: "se fôssemos apenas privar com chefes de estado, de quem sou amigo, ou com os quais concordo sempre - e isto poderia aplicar-se à comunicação social ou a setores económicos - estaria a fazer uma injustiça, temos de aceitar a realidade como é".
No mesmo sentido foram as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que sublinhou o respeito integral pela liberdade de imprensa, "quer a portuguesa, quer a angolana".
O Telejornal do canal público angolano TPA abriu a passada sexta-feira com a leitura de um editorial em que os media portugueses foram acusados de ser um veículo de transmissão de uma campanha de desestabilização e "ingerência abusiva" em assuntos de outros Estados.
Ao longo de cinco minutos, logo após abordar o tema da cimeira da CPLP que se realiza em meados de julho em Luanda, a apresentadora Sílvia Samara, refere que neste momento em que governos e povos que integram a organização "aproveitarão para reafirmar laços de amizade, irmandade e cooperação", assistem-se a "ações contrárias" e "a partir de Lisboa, há quem ainda pense ser possível fazer ingerência abusiva e grosseira nos assuntos de outros estados da mesma comunidade".
O Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros, que se encontram em Luanda para participar na cimeira dos chefes de Estado da CPLP, entregaram hoje uma doação de 50 mil doses de vacinas AstraZeneca à ministra angolana da Saúde, Silvia Lutucuta.