Contactado telefonicamente a partir de Lisboa, Nzita disse que a incursão resultou na morte de “três civis indefesos” em Tandou-Mbomba, uma aldeia do distrito de Tchiamba-Nzassi, junto à fronteira com Cabinda.
“Denunciamos vigorosamente o comportamento ilegal e inaceitável do Governo angolano e apelamos à comunidade internacional que condene publicamente a degradação da situação dos direitos humanos em Cabinda”, disse à Lusa o porta-voz da FLEC.
Jean Claude Nzita apelou ainda à comunidade internacional que “adote medidas para a criação urgentemente de um mecanismo internacional independente para investigar as violações do Direito Internacional e os atentados aos direitos humanos que são praticados atualmente em Cabinda”.
O jornal congolês Les Echos du Congo-Brazzaville noticia hoje na sua edição eletrónica que se registaram “vários mortos após incursão do exército angolano no Congo”, mas refere que se trata de cidadãos congoleses.
“O exército angolano atravessou a fronteira congolesa no distrito de Ntchiamba-Nzassi na segunda-feira antes de matar três congoleses na aldeia de Tandou-Mboma, na fronteira com Cabinda. Eles estavam a perseguir a FLEC, de acordo com fontes concordantes”, escreve o jornal.
Segundo Les Echos du Congo-Brazzaville, “os ministros da Defesa e da Segurança e Ordem Pública, Richard Mondjo e Raymond Zephirin Mboulou, respetivamente, deslocaram-se à zona para acalmar a situação”.
Nas declarações à Lusa, Jean Claude Nzita exorta os países da União Europeia “a condenar a operação militar desencadeada pelas tropas angolanas contra civis cabindas numa zona de fronteira”.
“Desde há muito que a comunidade internacional fecha os olhos aos horrores que ocorrem no território de Cabinda”, frisou o porta-voz da FLEC.
O jornal congolês refere que “nos últimos dias, houve incursões do exército angolano na cidade congolesa de Ntchiamba Nzassi, na fronteira com Cabinda. As repetidas incursões do exército angolano no Congo-Brazzaville têm sido um tema quente de discussão ultimamente”.
“A população ainda se questiona sobre os motivos que muitas vezes levam o exército angolano a realizar essas ações. São os soldados que perseguem os rebeldes de Cabinda que se retiraram para o território congolês ou é uma simples provocação de Luanda”, interroga-se o jornal.
Les Echos du Congo-Brazzaville assinala que os dois países “têm cada um posto avançado na fronteira, mas Cabinda continua a ser, aos olhos das autoridades angolanas, um verdadeiro crivo para os rebeldes da FLEC”.
A FLEC mantém há vários anos uma luta pela independência do território, de onde provém grande parte do petróleo angolano, alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
No entanto, o Governo angolano recusa reconhecer uma situação de instabilidade naquela província, sublinhando sempre a unidade do território.
Segundo o jornal congolês, Angola mantém “um forte contingente de forças de segurança cujo número ronda os 4.000 homens para uma população de apenas 40.000 pessoas, ou seja, um soldado por cada dez civis”.