O anúncio foi feito hoje, em conferência de imprensa, um dia depois do fim da III legislatura da Assembleia Nacional, na qual foi deputado pelo grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Fernando Heitor justificou ainda a sua saída por não concordar com as práticas quotidianas da atual direção do partido, liderada por Isaías Samakuva, e "muito menos com o programa de governação", proposto para as eleições gerais de 23 de agosto.
O político agora "apartidário", mas não "apolítico" disse este passo marca uma atitude coerente, depois de ter há um ano ter anunciado a sua demissão da direção da UNITA e cinco meses depois se ter manifestado indisponível para ser candidato a deputado à Assembleia Nacional.
"Declaro frontal, honesta e corajosamente que abandono a militância na UNITA a partir de hoje, depois de nela ter participado durante 42 anos e um mês, com uma lealdade imaculada, grande combatividade política e elevado sentido de Estado", disse Fernando Heitor, economista, que se filiou no partido em julho de 1975.
Nos últimos três anos, a direção "tem protagonizado ações que fazem parecer-me que o partido está desencontrado do ponto de vista político e ideológico".
"Não tem uma política de Estado lógica e realista, que se adeque ao presente e virada para um futuro de progresso e estabilidade social. Vejo na UNITA, uma direção que consentiu a infiltração no epicentro do poder do partido de pessoas radicais, oportunistas e de infiéis", disse Fernando Heitor.
O ex-deputado defende uma mudança estrutural e comportamental para o país, através de reformas progressistas, consistentes, realistas e humanistas, "sem demagogias nem caça às bruxas, sem leviandades revolucionárias e muito menos radicalismo".
Lembrando que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) "não queria mudanças" no passado, agora Heitor elogia a mudança de pensamento, demonstrada no seu programa de governação para os próximos cinco anos, sublinhando que o partido "baixou a crista".
"A melhor proposta de mudança para Angola, nos próximos cinco anos, a mais realista, abrangente, pacífica e responsável, é aquela que, reconhecendo que foram cometidos erros na governação anterior, pretende colocar nos lugares certos os quadros qualificados que o país tem (muitos deles subaproveitados), com o propósito de se "corrigir o que está mal" e ir "melhorando o que está bem" (lema da campanha eleitoral do MPLA)", disse.
Sobre o programa de governação da UNITA, é de opinião que "não é preciso iludir os angolanos com promessas de mundos e fundos, em apenas cinco anos".
"Um partido prometer colocar angolanos no rumo da felicidade é anedótico. Parece uma seita religiosa prometer pleno emprego ou 500 mil postos de trabalho para os jovens em dois anos, é de uma ignorância primária no que a economia diz respeito", criticou.
O antigo deputado da UNITA admitiu mesmo a sua insatisfação pela indicação de Raul Danda à vice-presidência do partido, descontentamento que já vem desde a sua ascensão ao cargo de líder do grupo parlamentar.
Fernando Heitor ocupou vários cargos de direção na UNITA e chegou a integrar pelo partido o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), em 1997, com responsabilidade pela pasta de vice-ministro das Finanças.