"Não vai haver surpresas, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] vai ganhar com mais de 50 por cento, mas duvido que sejam os 68 [por cento, correspondente a uma maioria constitucional] que deixou subentendidos na declaração de ontem", disse à Lusa Ana Lúcia de Sá, comentando o anúncio de vitória do partido no poder feito já na madrugada de hoje, horas depois do fecho das urnas.
O MPLA apresentou "números que não se sabe de onde vêm", disse a investigadora do Instituto Universitário de Lisboa.
No entanto, nas últimas horas, "não através de redes oficias, vários ativistas têm vindo a denunciar vários erros, afastamento de delegados, um caso de esfaqueamento e outras ações que prejudicam apenas uma parte: a oposição", disse.
Em Angola, "as pessoas têm estado muito ativas nas redes sociais" e noutros fóruns a denunciar os erros do processo eleitoral, explicou a analista, que admite alguma "saturação" por parte de elementos da sociedade civil angolana em relação à falta de transparência do processo eleitoral.
Exemplo disso é o facto de um grupo de ativistas ter reclamado o "direito a não votar para não participar num processo que está falsificado à partida", disse Ana Lúcia Sá.
Neste contexto, a "oposição acaba por ter um pouco mais de força porque tem acesso a um conjunto de informações mais alargado" e "tem outros canais de divulgação das suas ideias", que evitam a "comunicação social angolana que é coordenada pelo MPLA ou por meios controlados pelo partido", acrescentou.
Sobre o provável vencedor, Ana Lúcia Sá acredita que o cabeça de lista do MPLA, João Lourenço, será "um líder da continuidade e potencialmente da transição", mas está "muito condicionado na sua ação".
"Umas das grandes questões que se coloca é a impossibilidade de João Lourenço fazer muito sobre os poderes económicos instituídos" por causa de uma série de diplomas aprovados ainda pelo atual Presidente, José Eduardo dos Santos, que impede, por exemplo, "exoneração de quadros por má gestão de empresas públicas".
"José Eduardo dos Santos continuará como presidente do MPLA e o MPLA vai sobrepor-se à estrutura de Estado", avisou Ana Lúcia Sá, considerando ainda que a "especulação sobre o estado de saúde" do ainda Presidente "tem sido gerida com muito pouca transparência", pelo que "é possível" que tenha condições para liderar o partido bastante tempo.
Angola realizou na quarta-feira as quartas eleições, segundas gerais, envolvendo a eleição direta da Assembleia Nacional (220 deputados), e indireta do Presidente e do vice-Presidente da República.
Às eleições concorreram o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).
A CNE constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluíram 25.873 mesas de voto, algumas instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, num total de 9.317.294 eleitores.
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).
O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo, conforme define a Constituição, moldes em que já decorreram as eleições gerais de 2012.