Rui Falcão, secretário para a Informação do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), disse que não teve acesso à carta de Cláudio da Piedade Dias dos Santos, que terá sido remetida ao gabinete do Presidente do partido e de Angola, João Lourenço, datada de 01 de dezembro de 2023.
“Eu não tive acesso a este documento, ainda não vi o documento e como tal, não conheço o seu conteúdo a não ser o que vi aí nas redes sociais e não faz apelo a isso, esse documento dá a conhecer a existência de um movimento, mas isso é democracia”, respondeu à Lusa.
Cláudio da Piedade Dias dos Santos, filho de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, histórico militante do MPLA, antigo primeiro-ministro e vice-presidente da República, na era José Eduardo dos Santos, e ex-presidente do parlamento angolano, terá remetido uma carta ao gabinete de João Lourenço dando nota que lidera um movimento cívico denominado “Chegamos”.
Na carta o signatário informa que iniciou um processo de recolha de assinaturas para a realização de um congresso extraordinário do MPLA com vista a deliberar sobre a liderança do partido e a preparação das próximas eleições.
A Lusa remeteu questões a Cláudio Dias dos Santos sobre os objetivos do movimento, sem resposta até ao momento.
Rui Falcão, por outro lado, salientou que o MPLA não está em eleições internas e ainda está longe a realização do próximo congresso, considerando que esta é uma pretensão normal, desde que respeite os estatutos do partido.
“Se cumpre as regras e se respeitar os estatutos, qual é o problema dele se candidatar? Venha ele e venham muitos mais, se for este o caso, (…) é apenas mais uma manifestação de vontade”, argumentou.
Cláudio Dias dos Santos diz pretender abrir um debate para recuperar os ideais de justiça social, concórdia e estabilidade política e social, considerando que a realidade financeira e socioeconómica do país “é precária e o desgaste público do executivo e, por consequência, do nosso partido é real”.
A carta foi remetida ao gabinete do presidente do MPLA, depois de ser veiculada nas redes sociais a existência do movimento encabeçado por Cláudio da Piedade Dias dos Santos.
Rui Falcão, que falava à imprensa no âmbito das celebrações do 67.º aniversário do MPLA, assinalado em 10 de dezembro, assegurou que o seu partido “é democrático e está tranquilo” pelo que a manifestação de interesse de um militante não abala as estruturas da organização.
As próximas eleições gerais em Angola estão previstas para 2027, devendo o próximo congresso do MPLA, que venceu as eleições de 2022, ser realizado em 2025, sendo que João Lourenço cumpre agora o seu segundo e último mandato, constitucionalmente consagrado.
Questionado se a pretensa candidatura de Cláudio da Piedade Dias dos Santo se traduz na existência de correntes internas para promover múltiplas candidaturas à liderança do MPLA, Falcão considerou que a “vontade individual não pode ser transportada para o coletivo”.
“Eu não sei se isto corresponderá a uma corrente interna, a vontade individual não pode ser transportada para o coletivo desta forma, eu posso pensar de maneira diferente dos membros do Bureau Político, ter a minha opinião, mas significa isso que estou fora do quadro da opinião do Bureau Político?”, questionou.
O MPLA, prosseguiu, tem 5.027 organizações de base, 264 comités municipais, 18 comités provinciais, bem como um comité central, um bureau político e o seu secretariado.
O também deputado à Assembleia Nacional enalteceu ainda o processo de rejuvenescimento interno do partido e a integração de mais mulheres em posições de destaque, considerando ser este um compromisso de responsabilidade assumido pelo MPLA, apesar de muitos “verem fantasmas onde não existem”.
“Essa é dinâmica do M (como é também denominado do MPLA) que vive com esta tranquilidade, já estamos habituados que se vejam fantasmas onde não existem, há gente que não dorme só a procura desses fantasmas, mas nós estamos aqui tranquilos a fazer o nosso trabalho, a cumprir as nossas metas” rematou Rui Falcão.