“Eu acho que a responsabilidade e a solução para que possamos sair da situação em que nos encontramos passa efetivamente, digamos, por uma revolução popular. Portanto, é a cidadania que nos vai libertar. É o povo, apesar da fragilidade de cada indivíduo, [pois], juntos, podemos gerar uma transformação de grandes proporções como nunca antes na história de Angola”, defendeu Domingos da Cruz, numa videoconferência.
O ativista e docente angolano, que intervinha no Lisbon Speed Talk, uma iniciativa do Clube de Lisboa com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e do Instituto Marquês de Vale Flor, considerou que “essa transformação é possível” e deu como exemplo o movimento em curso no Quénia, de protesto contra uma proposta do Presidente, William Ruto, para fixar novos impostos, e que foi anulada devido à contestação popular.
“Agora que estamos a falar, está em curso um movimento no Quénia. Ruto recuou e agora os manifestantes dizem que não basta retirar a lei. Agora é Ruto que deve partir ”, salientou Domingos da Cruz.
Angola, acrescentou, é “um país em que a experiência mostrou que a elite dominante não dialoga. Ela está permanentemente a pensar, a planear como manter o poder pelo poder, o poder sem projeto da sociedade e só o poder pelos benefícios que o poder pode trazer para o seu grupo, para os seus mais próximos”.
Para Domingos da Cruz, a mudança em Angola é necessária “porque não existem, do ponto de vista institucional, canais para [sair] da situação”.
“As instituições capturadas, digamos, as eleições, na verdade não são eleições, são simulacros de eleições e é mesmo assim que acontece nos regimes autoritários. Seria, digamos, espantoso se houvesse eleições numa ditadura. E, portanto, não havendo qualquer canal de transformação, não havendo qualquer possibilidade de algo para uma transição como aquelas que acontecem em sociedades abertas, o único caminho é o povo chamar a si aquele que é o seu poder natural”, reiterou.
Domingos da Cruz disse reconhecer que não vê outro caminho.
“Sobre a saída eu não vejo outro caminho, francamente, que não seja o povo a dizer ‘basta, basta’. Basta do atraso, basta desta opressão que é feita a partir de uma farsa de democracia”, concluiu.