“Estamos a falar da maior potência económica, da maior democracia do mundo e uma visita de um Presidente americano poderia merecer uma enorme expectativa não só minha, mas de todo o povo angolano (…). Mas os cidadãos estão a perceber que nós não vamos ter uma visita de um Presidente americano a Angola, nós vamos ter uma visita a alguns interesses minerais que utilizam Angola como maior passagem”, afirmou hoje Adalberto Costa Júnior.
Em entrevista à Lusa, o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição) considerou que a visita de Joe Biden a Angola, agendada entre 13 e 15 de outubro, “não será plural” e que este estará num país “onde não há democracia”. De acordo com presidente da UNITA, Biden dissera que não visitaria países próximos de uma ditadura, com falta de democracia, aludindo a relatórios do governo dos Estados Unidos da América (EUA), segundo os quais Angola “não é uma democracia”.
“Nós estamos num país onde há censura da comunicação social, onde o líder da oposição não tem acesso à comunicação social pública, onde temos jovens presos de consciência por delito de opinião, os direitos constitucionais não são respeitados, onde a corrupção ativa é promovida pelo Presidente da República, onde a contratação não faz concursos”, criticou.
“Num cenário destes, não fica muito bem uma visita de um Presidente que não vem no diálogo plural”, notou, alimentando a crença no "bom senso" de Biden e que os relatórios da sua administração correspondam aos seus atos. Porque “a administração Biden diz que Angola não é uma democracia, esta administração cita as violações dos direitos humanos, cita as violações dos direitos à pluralidade, cita as questões da corrupção, então o que é que se passa? O Presidente (dos EUA) não conhece os relatórios da sua própria administração?”, questionou.
Costa Júnior, que falou à Lusa à margem da cerimónia de abertura do V Congresso da Liga da Mulher Angolana (LIMA), braço feminino da UNITA, que se iniciou hoje em Viana, apontou para a necessidade de Biden efetuar uma visita plural por respeito às instituições, como o parlamento.
Argumentou que na Assembleia Nacional (parlamento) estão representados partidos políticos com assento parlamentar e que uma passagem por ali “era já algum respeito por esta pluralidade e seria satisfatório”. Adalberto Costa Júnior referiu ainda que Joe Biden será recebido em Angola “por um Presidente (João Lourenço) que não conhece e recusa a democracia plural”, insistindo na importância do estadista norte-americano em fim de mandato efetuar uma “visita plural para receber aplausos”.
“Mas, ainda temos a esperança de que o Presidente Joe Biden faça uma visita a Angola e tenha atenção à pluralidade do Estado, portanto ainda pode haver correção”, frisou, recordando que a Frente Patriótica Unida, plataforma política na oposição, fez uma declaração pública a este propósito. Enalteceu igualmente a primeira visita de um Presidente dos Estados Unidos a Angola, referindo que apesar de este estar em fim de mandato e não ser candidato para as próximas eleições “não deixa de ser um Presidente americano.”
“Portanto, não devemos deixar aqui de reconhecer que se trata de uma visita extremamente importante e única, mas falta-lhe alguma componente, se tivesse mantido a candidatura e se estivesse a vir numa circunstância de continuidade, também representaria um pouco mais”, realçou. Para o presidente da UNITA, também deputado da Assembleia Nacional, a visita de Biden vai trazer a Angola os Presidentes dos países vizinhos: “Esta visita é (pelo) Corredor do Lobito, esta visita são os minérios do Congo (Democrático), eu não sei se depois no balanço final o que é que vai sobrar efetivamente para Angola”, rematou.
Segundo a Presidência angolana, o Corredor do Lobito, seu pleno desenvolvimento e expansão, era uma das grandes prioridades nas conversações entre as delegações presidenciais de Angola e dos EUA. O Corredor do Lobito interliga por via ferroviária as regiões sul da República Democrática do Congo (RDCongo) e do noroeste da Zâmbia aos mercados comerciais regionais e mundiais via porto do Lobito, em Angola, em cujo território percorre 1.300 quilómetros, e conta como o apoio dos Estados Unidos e também da União Europeia.