A presidente do Partido Humanista de Angola (PHA), Bela Malaquias, está a ser acusada de gestão pouco transparente, nepotismo, compadrio, transformação da organização em património familiar, ao ponto de não aceitar ser auditada internamente, e de colocação dos carros da agremiação política no serviço de táxis ‘Heetch’.
A acusação foi feita pela vice-presidente para Auditoria Nacional, Albertina Coimbra Agostinho, impedida de frequentar a sede do partido e de participar das actividades.
No PHA, tratam-na por ‘mana Beth’ e no seio familiar, Beth Coimbra. Considerada mulher com génica e uma verdadeira ‘guerreira’, é co-fundadora do partido.
O seu encontro com Bela Malaquias foi inusitado - regressava aos murmúrios de um escritório de advogados, por conta de um processo que não ‘atava nem desatava’, quando foi interpelada por uma mulher desconhecida que a acalentou. Trata-se da actual presidente do PHA, que, por ironia do destino, era, também, a dona do referido escritório.
A conversa entre ambas estendeu-se por várias horas e discorreu sobre distintos aspectos da vida.
Encantada, eventualmente, com o discurso da sua interlocutora, Bela Malaquias revelou-lhe um sonho: a criação de um partido político.
Sem tempo para uma reflexão profunda se aderiria ou não à causa, a vice pediu alguns dias para analisar os prós e os contras sobre o ‘embrião político’ de Bela Malaquias.
“Em 15 dias, aceitei a causa, sobretudo devido à defesa das mulheres e ao humanismo como um dos princípios”, conta.
Sem olhar a meios nem contrapartidas, a militante da primeira hora do PHA colocou ‘a mão na massa’, como sói dizer-se.
Contribuiu para a formalização da comissão instaladora do PHA junto do Tribunal Constitucional (TC) e chamou à causa do is familiares.
“Na altura, ninguém estava disponível a gastar cinco mil kwanzas para tratar o Registo Criminal. Cheguei a chamar, inclusive, dois primos para aderirem à causa”, lembra.
Um esforço sem rendimentos
Em 2020, viajou para sete das antigas 18 províncias, à caça de documentos para a legalização do partido.
Com pouco menos de dois milhões e alguns kwanzas disponibilizados por Bela Malaquias, Beth Coimbra enfrentou várias peripécias para obter cópias de BI e declarações de cidadãos para a legalização e anotação do PHA junto do TC.
Apanhou chuva, andou de moto-táxi, alimentou-se mal, dormiu numa estalagem (hospedaria) em obras no Leste do País, perdeu meios pessoais, como, por exemplo, computador portátil, telemóvel, para citar apenas esses.
“Ninguém anda por sete províncias com aquele valor, principalmente no Leste do País, onde fiquei durante quatro meses”, recorda, numa alusão de que, apesar de a vida naquela parcela do território ser bastante cara, as regiões são distantes umas das outras.
Partido não paga dívida
Para suprir o défice, lembra, usou os parcos recursos financeiros da família para ajudar a legalizar o PHA, sobretudo no processo de recolha de documentos.
“Eu usei dinheiro de algum património familiar, e a presidente do partido tem todas as facturas”, revela.
Depois de receber a primeira verba do Estado (perto mais de 80 milhões Kz), decorrente da legalização do partido, Bela Malaquias ‘virou a casaca’, fazendo jus ao ditado de que “queres conhecer alguém, dê-lhe dinheiro e poder”.
Hoje, descreve a ‘abandonada’, a presidente do PHA escorraçou todos os que ergueram o partido.
À semelhança de tantos outros e sem motivos aparentes, Beth Coimbra está vetada de entrar na sede do partido e de participar de qualquer actividade política do PHA.
A cidadã que acusa Bela Malaquias de falta de humanismo critica a ‘gestão bantu’ da presidente, por ser avessa a uma auditória interna e de transformar o partido em propriedade privada da família.
“Nunca desempenhei a minha função. A presidente nunca aceitou auditar as contas. Ela e o irmão que caiu de ‘paraquedas’, hoje vice-presidente, são os donos do partido”, denuncia, alertando que a figura de primeiro vice-presidente é ilegal, pois não consta dos estatutos do partido.
“Eu fui usada pela presidente. Na conversa inicial, ela disse-me que eu seria a primeira vice-presidente, depois me falou que esse cargo não era viável, mas, afinal, é viável para o irmão que nem pertencia ao partido”, sustenta.
A mulher que se forjou na política pelo PHA, que acusa, igualmente, Bela Malaquias de nepotismo e compadrio, diz que a líder retirou todos os carros aos vice-presidentes e os colocou no serviço de táxis Heetch.
“Não só colocou no Heetch, mas também outros carros estão com os filhos que nunca foram membros do partido. Colocou um dos filhos que nunca pertenceu ao partido como comissário da CNE no Huambo, bem como uma neta como comissária no Kwanza-Sul e alguns sobrinhos como comissários comunais”, acusa.
Justiça deverá ser o recurso
A militante, que pondera recorrer à Justiça, pede à presidente do partido que reembolse o dinheiro que gastou nas várias fases de legalização do PHA.
“A presidente não só tem uma dívida moral, mas também uma dívida financeira da minha família por pagar, para além de que tem a obrigação não de indemnizar, mas de compensar todo o meu esforço”, defende.
A cidadã refere que perdeu todos os pertences de casa, mobiliário, electrodomésticos, entre outros, por conta de um incêndio cujas causas não foram determinadas até à apresente data, mas Bela Malaquias não moveu uma única palha.
“Isso aconteceu durante a campanha das eleições de 2022. Encontrava-me ao serviço do partido, e um incêndio em casa destruiu todos os meus pertences. Ela foi indiferente e ainda por cima gritou comigo”, ressalta.
Beth Coimbra, que endureceu o discurso, acusa-a ainda de ‘candongueira’, por fazer cobranças alegadamente ilícitas de mil kwanzas aos membros do partido e a candidatos a comissários da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
“Os militantes continuam a pagar este valor, excepto os que foram retirados compulsivamente do partido. Estamos a falar de muita gente, desde candidatos a comissários provinciais, comunais e municipais”, aflora.
Relativamente ao assunto, o NJ tentou ouvir a versão de Bela Malaquias, mas sem êxitos.
O PHA elegeu dois deputados nas eleições de 2022. As suas acções no interior do País são descritas por alguns dos seus membros como inexistentes, um partido ‘sem chama’, o que eventualmente perigará a existência da formação política em 2027, cuja disputa eleitoral se adivinha renhida.