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Acusações contra Higino Carneiro é “engenharia jurídica” para inviabilizar candidatura à presidência do MPLA — analista

Post by: 03 Dezembro, 2025
Acusações contra Higino Carneiro é “engenharia jurídica” para inviabilizar candidatura à presidência do MPLA — analista

O analista Albino Pakisi disse hoje que as acusações contra o general Higino Carneiro são uma “engenharia jurídica” para inviabilizar a sua candidatura à presidência do MPLA (no poder) e para garantir a manutenção de João Lourenço na liderança.

“A grande verdade é que tudo parece maquinado no sentido de impedir o general Higino Carneiro a concorrer às eleições no partido [MPLA], porque enquanto general foi útil ao Presidente da República João Lourenço, enquanto candidato, nas eleições de 2017 e 2022, conforme vimos”, disse hoje o analista.

Em declarações à Lusa, Albino Pakisi referiu que Higino Carneiro apoiou a candidatura de João Lourenço nas duas últimas eleições gerais, lamentando “movimentações sérias” contra o general angolano, sobretudo quando este apresentou a pretensão de se candidatar à liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, partido no poder), no congresso previsto para 2026.

Segundo Pakisi, desde que Higino Carneiro manifestou em julho passado o desejo de se candidatar à presidência do MPLA, “com a falta da bênção do Presidente João Lourenço, começamos a ver que há movimentações muito sérias para que, de alguma forma, desacreditar e inviabilizar a possibilidade de Higino Carneiro concorrer às eleições”, notou.

O general foi constituído arguido e acusado dos crimes de peculato e burla qualificada, quando foi governador das províncias do Cuando Cubango e de Luanda, anunciou na terça-feira a Procuradoria-Geral da República de Angola.

Segundo um comunicado da PGR, Higino Carneiro está indiciado pelos crimes de peculato, “utilização de fundos públicos para fins particulares”, quando era governador do Cuando Cubango.

O analista político insistiu que este processo, reaberto há um ano do congresso que vai eleger o novo presidente do MPLA, surge para afastar o general da corrida, aludindo a “indícios muito fortes” nesse sentido, lamentando a “subordinação” do poder judicial ao poder político.

Pakisi assinalou que se tratam apenas de acusações contra o general, que goza de presunção de inocência, mas, notou, quando o poder judicial angolano quer atingir determinados objetivos, “sobretudo devido à grande influência que tem do poder judicial, o seu julgamento pode acontecer”.

“Isso depois vai depender do regulamento das eleições e como quem manda no partido neste momento é o Presidente João Lourenço, certamente que o regulamento vai prever uma cláusula, segundo a qual, quem está acusado do que quer que seja não pode concorrer às eleições, tudo indica neste sentido”, apontou.

“E como a máquina partidária e/ou o poder judicial em Angola tem essa influência é para que se impeça que o general concorra às eleições no partido”, acrescentou.

Albino Pakisi, também filósofo e docente universitário, acredita igualmente que o próximo congresso do MPLA “será difícil e pesado” devido ao “afastamento” de alguns pré-candidatos referindo que se está a afinar a máquina para que João Lourenço se mantenha na presidência do MPLA para os próximos cinco anos.

“E quando se tira Higino Carneiro e outros militantes, ninguém a nível do congresso vai concorrer com João Lourenço. Não acredito que tenhamos em 2026 um congresso como que aconteceu na UNITA (oposição), com dois candidatos ou mais”, disse.

O próximo congresso do MPLA, partido no poder desde 1975, está agendado para 2026, ano que antecede as eleições gerais de 2027, ato eleitoral em que João Lourenço não deverá se recandidatar à presidência do país, por cumprir já dois mandatos, como estabelece a Constituição angolana.

Para o analista, o conclave vai eleger João Lourenço para a continuidade na liderança do MPLA e este deverá propor ao partido um candidato à Presidência da República: “Tudo indica que com estas engenharias jurídicas o presidente se quer manter de alguma forma para salvaguardar a sua imagem [a nível do MPLA]”.

“Porque temos de ter a certeza disto: o Presidente João Lourenço tem medo do dia de amanhã (…). Se não tiver assegurado no partido e noutras instituições, terá o mesmo problema que teve José Eduardo dos Santos e/ou piores. Porque o que está a acontecer hoje no partido e no país vai deixar muitas sequelas nos próximos tempos”, indicou.

O analista disse ainda que o combate à corrupção em Angola “é seletivo”, aludindo às declarações públicas que figuras ligadas ao poder judicial e advogados, e lamentando que a justiça em Angola não seja justa.

Last modified on Quarta, 03 Dezembro 2025 16:37
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