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Angola figura entre os 55 países onde a situação da fome é considerada séria

Post by: 12 Outubro, 2017

Comunidade internacional comprometeu-se em acabar com a fome até 2030. Com cerca de 800 milhões de pessoas no mundo a passar fome, será possível atingir a meta?

São mais de dois mil milhões de seres humanos vivendo num mundo, onde cerca de 800 milhões passam fome, um terço da população adulta é obesa e um terço de toda a comida é desperdiçada. Qual a novidade?

Os números do Índice Global da Fome 2017 divulgados pela ONG de ajuda ao desenvolvimento Ação Agrária Alemã (em alemão, Welthungerhilfe) nesta quinta-feira (12), apontam uma redução de 27% da fome no mundo, quando comparados com os dados de 2000. Mas essa evolução acontece de maneira desigual. Em 14 países dos 119 avaliados, a situação alimentar melhorou em 50%. Ainda assim, também é verdade que, nos últimos anos, conflitos e mudanças climáticas – como a seca em África – pioraram novamente esses valores.

Quando a comunidade internacional decidiu juntar-se aos objetivos da ONU por um desenvolvimento sustentável, ela prometeu acabar com a fome e reduzir a desigualdade no mundo até 2030. As melhorias, no entanto, não convencem. Basta olhar ao redor ou continuar lendo as notícias.

As muitas caras da fome

Cerca de 60% da população faminta em todo o mundo é composta por mulheres e meninas. Na maior parte dos casos, isso é reflexo de estruturas sociais que negam às mulheres o acesso à educação, a cuidados de saúde e a outros recursos básicos. Também as minorias étnicas são muitas vezes vítimas de discriminação, pobreza e fome em maior medida.

As regiões do Sul da Ásia e da África subsaariana são as que mais sofrem com a fome. Os valores do Índice Global da Fome nessas áreas correspondem a 30,9 e 29.4, respetivamente, o que as enquadra na categoria "muito séria". Em 2000, a situação em oito países era classificada como grave. Este ano, somente na República Centro-Africana a situação foi considerada "grave”. Nos últimos 17 anos, o país não conseguiu fazer qualquer progresso.

Situação em Angola

Ainda segundo o estudo, Angola figura entre os 55 países onde a situação da fome é considerada séria. Em entrevista à DW, o padre angolano Jacinto Wacussanga fala que a fome em Angola é resultante da má distribuição da renda nacional. O dinheiro, proveniente de recursos naturais, especialmente de petróleo, é mal distribuído. Isso provoca desequilíbrios e assimetrias que levam à desnutrição, à fome e a outros problemas sociais.

Este quadro é agravado pelas mudanças climáticas. Em Angola, existem períodos de prolongada seca, seguidos de enxurradas que prejudicam as superfícies cultivadas. Padre Pio sublinha ainda que a crise económica enfrentada no país é resultado de desvios do erário público. "As reservas internacionais líquidas que Angola têm são inferiores ao volume de dinheiro que muitos sujeitos no poder desviaram e depositaram em contas individuais fora do país. Isso é um escândalo. Esses fatores compaginados aumentam ainda mais a a vulnerabilidade das famílias", analisa.

Um crime social

Segundo Padre Pio, a situação das crianças é mais vulnerável. Ele conta que, muitas vezes, elas acabam por ser vítimas fatais da fome. "Não temos ainda a disponibilidade de alimentos em grande quantidade para que as crianças possam ter refeições de qualidade. Se elas passarem dos cinco anos, precisam estar bem nutridas para, um dia, terem capacidade de ter um bom rendimento escolar. A possibilidade de ter um papel de liderança e alavancar um país depende também da nutrição", ressalta.

As crianças mais afetadas vivem em zonas rurais. Tratam-se de grupos minoritários: pastores, e pequenos grupos nômadas. "Em Angola, muitos jovens estão a deixar as zonas rurais, para morar nas cidades. Eles partem na ilusão de encontrar nos grandes centros a sua subsistência. Este movimento está a empobrecer ainda mais as famílias e o interior do país", relata o padre.

Padre Pio não acredita que a fome no mundo seja erradicada até 2030. "Porque todos os graves problemas mundiais, os conflitos, os focos de desigualdades são produzidos pelo modelo concentracionista, pela globalização do capital, pelo fato de o capital estar concentrado em mãos de muito poucos. Não vamos resolver este problema até 2030", completa.

Ele faz um apelo moral e ético à consciência das nações que detêm o poder no mundo para que a situação mude. "Sobre o meio ambiente, ninguém estará suficientemente protegido contra as alterações climáticas resultantes de uma prática depredatória, que visa destruir o próprio planeta. Se, um dia, essa consciência chegar e mexer com todos gradualmente, teremos algumas mudanças. Mas antes disso, vai ser muito complicado”, prevê Wacussanga.

Insegurança alimentar em Moçambique

Em Moçambique, cerca de 24%, de uma população de 25 milhoões, vive em situação de insegurança alimentar. De acordo com o representante do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) em Maputo, Castro Camarada, o desafio maior está no indicador referente à desnutrição crónica em crianças entre zero e cinco anos. A percentagem de crianças desnutridas é de quase 50%. "Estão sendo implementados vários programas no que diz respeito à desnutrição crónica entre as crianças. Existe um programa multisetorial - pois esta é uma questão complexa, que envolve saúde, educação, questões de água, agricultura, entre outros setores. Este programa está sendo implementado, mas, apesar de alguns resultados, a desnutrição crónica persiste com números elevados", informa o representante da FAO.

O índice Mundial da Fome é resultado de um trabalho feito em conjunto pela Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, sigla em inglês) dos Estados Unidos e as ONGs Concern Worldwide e Welthungerhilfe, da Irlanda e da Alemanha, respetivamente.

O relatório deste ano acentuou o consenso de que a distribuição desigual da fome no mundo está ligada não só à pobreza, mas sobretudo à política e ao poder. A fome numa região ou num país é também uma questão de distribuição. "Não seria um problema alimentar todas as pessoas no mundo hoje, mas a distribuição tampouco funciona", diz a presidente da Welthungerhilfe, Bärbel Dieckmann, à DW.

Last modified on Quinta, 12 Outubro 2017 23:52
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