Cerca de 900 trabalhadores foram dispensados na quarta-feira pela fábrica de cimento do Cuanza Sul, uma das cinco unidades do género que funciona em Angola, mas que paralisou a atividade por falta de fornecimento de combustível, foi hoje divulgado.
Em causa está a necessidade de Heavy Fuel Oil (HFO), combustível utilizado na produção do clínquer, componente fundamental para o fabrico de cimento, num alegado diferendo com os fornecedores.
A administração da fábrica fez saber que a situação afeta ainda 700 postos de trabalho indiretos, sendo que a única atividade que será mantida visa a conclusão da venda de um stock de 13 mil toneladas de cimentos, por parte do departamento comercial.
A Lusa noticiou a 18 de outubro que a direção daquela fábrica escreveu à direção provincial da indústria do Cuanza Sul a dar conta da situação, que se arrasta desde janeiro deste ano, e que se junta a outros problemas que o setor está a atravessar no país, fazendo disparar o preço do cimento.
Segundo o diretor provincial da Indústria no Cuanza Sul, Honorato Konjanssile, a situação é preocupante, tendo em conta que se trata da maior unidade fabril naquela província.
"É a maior indústria que temos aqui, porque além da capacidade de produção, que era de cerca de um milhão e 200 sacos por dia, temos matéria-prima suficiente como é o calcário e argila, temos material suficiente para dar continuidade à fábrica por mais 80 anos de vida", disse.
Dada a escassez de cimento em Angola, o preço do saco já duplicou no mercado nacional, assunto que inclusive foi abordado pelo Presidente angolano, João Lourenço, no seu discurso sobre o estado da Nação, a 16 de outubro.
"Verifica-se uma concorrência desleal na indústria de cimento, que fez disparar os preços do cimento no mercado pela paralisação de duas unidades fabris, situação que urge pôr cobro de imediato", disse João Lourenço.
Sobre o assunto, a ministra da Indústria, Bernarda Martins, disse que existem no mercado cinco indústrias de produção de cimento, estando duas delas a viver atualmente "constrangimentos muito sérios no domínio energético".
Segundo a ministra, estes constrangimentos já se arrastam desde o início do segundo semestre deste ano: "O executivo está a tentar ajudar a que estas empresas consigam ultrapassar esses constrangimentos, para que rapidamente possam voltar a operar para não prejudicar a oferta de cimento no mercado".
Pela capacidade instalada, o setor dos cimentos em Angola é autossuficiente, o que levou anteriormente o Governo a proibir a importação do produto.