A denúncia foi feita nesta Terça- feira,27, pelo regedor desta aldeia, Adriano Domingos, durante um encontro que esta comunidade manteve com um grupo de deputados da Assembleia Nacional, que se deslocou a esta localidade para auscultar as suas reclamações. Segundo o regedor, no princípio de Agosto de 2016, este empresário apresentou-se nesta aldeia como sendo o proprietário de um vasto campo agrícola, com mais de mil hectares, em cujo perímetro está situada a comunidade e os seus campos de cultivo, tendo-os convidado a abandonar o local.
Surpreendidos com a situação, um grupo de anciãos, dirigidos pelo próprio regedor, dirigiu- se à Administração Comunal da Vista Alegre para apresentar as suas preocupações sobre o sucedido, mas sem sucesso, alegando que o administrador tinha dito não ser da sua competência resolver o assunto, mesmo sendo na sua área de jurisdição. Inconformados, uma semana depois, o mesmo grupo contactou a Administração Municipal do Quitexe, mas também não encontrou a receptividade desejada, tendo apenas recebido garantias de que a situação seria resolvida. Enquanto se aguardava ansiosamente pela resolução airosa do caso, segundo a fonte, numa manhã cinzenta do dia 16 de Agosto, o aludido empresário, 53 anos, natural de Maquela do Zombo, munido de máquinas e um dispositivo policial, ordenou a destruição das lavras da comunidade.
Durante a devastação, foram deitadas abaixo enormes quantidades de plantações de mandioca, milho, feijão, batata-doce, ginguba, citrinos e outros, perante o olhar impávido e sereno da Administração Municipal do Kitexe. No acto de destruição, houve uma acção policial contra os indefesos camponeses que resultou na detenção de nove cidadãos, entre os quais um ancião de 65 anos, João Rodrigues, e uma criança de 2 anos, enclausurados durante dois dias, no Comando Municipal da Polícia Nacional em Kitexe, sem culpa formada.
Com lágrimas que lhe corriam no canto dos olhos, durante os seus depoimentos aos deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, liderados por Joaquim Nafoya, integrando ainda Clarice Mukinda e os assessores Figueiredo Mateus e Manuel Mumbica, disse que após à destruição das lavras, o empresário desencadeou uma alegada perseguição contra os aldeões, sobretudo os que tentavam reivindicar as suas propriedades. Como não se bastasse, segundo a fonte deste jornal, Mayaya André Filho pretendia também destruir esta mesma aldeia, habitada por mais de 200 pessoas e situada a Sul do Rio Dange e a Norte do Rio Mbanje, cujas terras os habitantes alegam serem dos seus ancestrais, que lá habitaram há mais de um século.
Segundo a fonte, o pior só não aconteceu porque a comunidade decidiu resistir contra esta intenção, que consideram de “impiedosa e anti-humana”, sem que as autoridades locais “movessem uma palha” para conter a situação. Após ver gorada essa sua última intenção, Mayaya André Filho proibiu os aldeões de circular perto das suas antigas lavras, sob pena de serem detidos na sua fazenda, onde, segundo a fonte, possui um dispositivo de segurança privada armada. A nossa reportagem percorreu mais de três quilómetros e meio para contactar o acusado, mas, quando tentou chegar ao local, foi advertida para não o fazer, sob pena de “ser recebida com tiros”, segundo o nosso cicerone, o ancião João Rodrigues. “Temos de parar por aqui, se andarmos mais um pouco, até à residência, podemos ser mortos, porque o senhor Mayaya ordenou os seus guardas para matar quem se atrever a chegar ao local”, alertou.
Ele, que no dia da devastação das terras foi detido por agentes policiais, acusou o empresário de ter ordenado a detenção de qualquer pessoa que circule na agora sua propriedade exclusiva, onde, para além da alegada cannabis satival, explora também madeira. Aliás, durante o nosso percurso pelas lavras devastadas, divisamos madeira em toros e duas lavras de onde recentemente teriam sido colhidas quantidades elevadas de liamba, que, seguidamente, teriam sido transportadas num camião para destino desconhecido, segundo a fonte. Contou que quando a comunidade soube da existência do cultivo da liamba nas suas antigas lavras pelo novo proprietário, denunciou o caso à Polícia, mas, contra todas as expectativas, os queixosos é que foram detidos, sob a alegação de terem circulado naqueles espaços sem autorização do proprietário.
Polícia Nacional promete averiguar a situação
Sobre o assunto, o porta- voz do Comando Provincial da Polícia Nacional(PN) no Uíge, subinspector Xavier Dala, disse que a corporação está surpreendida com o relato destes acontecimentos e promete averiguar o assunto. Segundo ele, nenhuma queixa- crime foi apresentada oficialmente pelos presumíveis lesados ao Comando Municipal da Polícia Nacional do Kitexe. Acrescentou que se os lesados fizessem denúncia, a situação seria investigada pela secção do Serviço de Investigação Criminal(SIC) e seguiria os seus trâmites legais. Entretanto, garante que após investigar o caso, será feito um pronunciamento para esclarecer todos os factos que terão ocorrido entre os munícipes e o empresário em causa.
Comunidade quer advogado
Confinados em pequenas novas propriedades para cultivo, e distantes das antigas áreas de lavoura, os aldeões de Njila Ngola pretendem a intervenção das várias associações angolanas de advogados no sentido de ajudá-los a reaver as suas antigas propriedades, assim como para evitar a suposta perseguição de que alegam estarem a sofrer. Desprovida de recursos financeiros, a comunidade requereu, em tempos, um atestado de pobreza à Administração Municipal, mas lhe foi negado este documento, segundo o regedor, daí a necessidade de um socorro por parte dos advogados de boa fé. Eles ainda pedem a intervenção da Assembleia Nacional para ajudar a sanar este conflito, já que as autoridades da província, ainda no antigo consulado do governador Paulo Pombolo, pouco ou nada fizeram para a resolução deste conflito. OPAIS