Durante uma conferência na Cidade do Cabo, no mês passado, o presidente da mineradora estatal Endiama, José Manuel Ganga Júnior, disse que as licenças haviam expirado e estavam abertas a novos investidores.
As licenças eram para as reservas de Camafuca-Camazambo, Chiri, Sangamina, Mulepe, e Tchiegi, todas localizados no nordeste de Angola, nas regiões de Lunda Norte e Lunda Sul. As duas primeiras estavam anteriormente nas mãos de Isabel dos Santos.
Isabel é a mulher mais rica de Angola, com um império que vai de joias a supermercados. Sua família tem sido poderosa no país por quatro décadas, mas perdeu força quando seu pai deixou a Presidência no ano passado, depois de 38 anos no poder. O sucessor, João Lourenço, prometeu atacar os monopólios e tornar o país mais atrativo a investidores. Em novembro, Lourenço tirou Isabel dos Santos do cargo de presidente da Sonangol, petrolífera estatal e empresa mais importante do país.
Representantes da filha do ex-presidente não comentaram ainda o assunto. Um porta-voz da Endiama confirmou a veracidade da gravação.
—É verdade que esses kimberlitos (formação de rochas vulcânicas onde diamantes são encontrados) já haviam sido licenciados no passado, muitos anos atrás. As licenças já venceram. Nós não temos nenhum compromisso com qualquer dono anterior — disse Ganga Júnior no vídeo.
Angola é um dos principais produtores de diamantes do mundo, apesar de boa parte do seu território ainda ser inexplorado, por causa dos 27 anos de guerra civil que se seguiram à independência do país, em 1975. Mesmo com o fim do conflito em 2002, o ambiente de negócios do país permaneceu fechado a investimentos externos.
Lourenço chegou ao poder em 2017 com promessas de livrar o país do estigma de ser uma economia pouco transparente e exclusivamente voltada para o petróleo. Para isso, tem tentado atrair investimentos internacionais. Até o momento, a empresa russa Alrosa é a única grande mineradora atuando em Angola.
— Estamos prontos para começar do zero e negociar nas melhores condições. Para o bem da Endiema, do nosso país e dos acionistas potenciais. A Endiema deve ser parceira pela lei, mas estamos abertos — concluiu Ganga Júnior.