João Maria de Sousa falava hoje à imprensa, à margem da cerimónia de abertura do ano judicial 2018, presidida pelo Presidente de Angola, João Lourenço.
Em causa está o julgamento do jornalista angolano Rafael Marques, que vai responder pelos "crimes de injúrias a órgão de soberania", cujo início estava previsto para a semana passada mas que foi adiado a pedido da defesa do antigo PGR.
"O adiamento desse julgamento foi a pedido do advogado, meu assistente, na medida em que ele teve que se ausentar do país em data anterior e requereu ao juiz da causa o adiamento ", disse João Maria de Sousa questionado pela agência Lusa.
Em outubro de 2016, o jornalista publicou um artigo no seu portal de investigação jornalística Maka Angola, onde levantava suspeitas de corrupção contra o então Procurador-Geral da República de Angola.
O magistrado disse esperar ver "até onde chega a coragem" do jornalista reafirmar em tribunal as acusações que faz contra si.
"Vamos ver até onde é que chega a coragem, até porque uma coisa são as convicções que determinada pessoa tem e outra coisa é a realidade factual e jurídica relacionada com a questão", desafiou.
Segundo João Maria de Sousa, o caso tem a ver com a sua intenção de adquirir os direitos de superfície de uma determinada parcela de terreno na província do Cuanza Sul, que "enquanto cidadão como qualquer outro cidadão tem direito".
"Manifestei o meu interesse, posteriormente achei que não valia à pena, em função dos relevos do referido terreno, que era assim um terreno escarpado. A intenção era colocar algumas casas de madeira junto à praia, era um aglomerado de quatro casas familiares", explicou.
Questionou a razão de o jornalista Rafael Marques "de repente" lhe atribuir o "titular de corrupto, pelo facto de ter requerido aquele espaço".
"Eu acho que é um direito que eu tenho enquanto cidadão e que qualquer outro cidadão tem", salientou.
O ex-PGR de Angola afirmou que neste processo está apenas a defender o seu bom nome, a sua honra e dignidade.
"Rafael Marques é conhecido, eu acho que devo ser das pessoas que menos o conhece, por isso neste processo em concreto eu estou é a defender o meu bom nome, a minha honra e a minha dignidade, por isso não quero fazer qualquer tipo de comentário à atividade do Rafael Marques", frisou.
"A única coisa que eu gostaria de saber é onde é que Rafael Marques trabalha, do que é que vive, o que é que ganha. Se calhar isso iria ajudar para eu fazer alguma conjetura, enquanto isso não sei", observou.
Na semana passada, o jornalista de investigação compareceu em tribunal, para oficialmente ser notificado do adiamento do julgamento, tendo reafirmado em declarações à imprensa, que espera que o mesmo confirme as acusações de corrupção que fez ao ex-PGR angolano.
"Eu sou arguido e neste país aqueles que lutam contra a corrupção é que são os arguidos e não os corruptos", disse o jornalista, reiterando que mais uma vez vai comparecer em tribunal para "afirmar que ele (João Maria de Sousa) é corrupto" e apresentar as provas daquilo que escreveu.
"O julgamento está marcado e tem de acontecer, tem de haver uma condenação ou uma absolvição. Agora, como é que eu tendo denunciado uma corrupção sou acusado de cometer crimes contra a segurança do Estado", questionou, considerando o facto "um abuso".