A mãe, Josiane Nayme, e a filha, Clémence, sentaram-se hoje em frente ao Eliseu, em Paris, numa tentativa de chegar à fala com o Presidente angolano, João Lourenço, que iniciou esta segunda-feira uma visita oficial de três dias a França.
De acordo com a agência AFP, ambas acabaram por ser recebidas por assessor presidencial para a África e deverão também falar hoje, por telefone, com Macron, quando faltam dois dias para se assinalar os 18 meses sobre o homicídio do engenheiro francês, ocorrido no enclave angolano de Cabinda.
Clémence disse que pretende "mostrar aos dois chefes de Estado" que o irmão "amava Angola e os angolanos", recordando que a família continua a aguardar por notícias sobre as investigações em Angola.
Benoît Nayme trabalhava desde 2014 em Angola, na Friedlander, subcontratada da petrolífera norte-americana Chevron.
Foi espancado até a morte, na sua casa, em Cabinda, por estranhos, na noite de 30 de novembro de 2016.
Em Angola foi entretanto abandonada a tese de um assalto que teria corrido mal, passando a investigação a ser redirecionada para homicídio. Em março, foi aberta uma investigação judicial por "homicídio doloso" pelas autoridades em França.
A Lusa noticiou em abril que o Presidente angolano, João Lourenço, autorizou, por despacho, a cooperação pontual entre a Justiça nacional e as autoridades francesas para investigação do homicídio de um cidadão daquele país europeu ocorrido em Angola.
De acordo com o teor da decisão do despacho, raramente adotada por Angola, a mesma é justificada "tendo em conta que não existe acordo de cooperação jurídica internacional em matéria criminal entre os dois países", mas também em face de o pedido ser "considerado admissível".
"É autorizada a Procuradoria-Geral da República [PGR] a promover os termos da carta rogatória das autoridades francesas", orienta o despacho assinado pelo Presidente angolano, de 25 de abril.
Acrescenta que o Serviço de Investigação Criminal de Angola "deve prestar todo o apoio e colaboração à PGR em relação ao processo", por "haver necessidade" de realizar esta "cooperação pontual".
O despacho não avança pormenores sobre o homicídio em causa. Contudo, fontes ligadas ao processo adiantaram à Lusa tratar-se do homicídio deste cidadão francês, ocorrido na província de Cabinda.
O despacho justifica a decisão com "as relações de cooperação, em vários domínios, existentes entre a República Francesa e a República de Angola e na sequência da solicitação, por parte deste país, de ajuda mútua para investigação criminal no âmbito de um processo de inquérito aberto no seguimento do homicídio de um cidadão de nacionalidade francesa em território angolano".
Como a anuência de Angola ao pedido de assistência jurídica mútua da França, oficiais do Escritório Central para a Repressão à Violência contra as Pessoas (OCRVP) deverão viajar para Luanda em junho.
"Entre as hipóteses a serem verificadas está a possível descoberta de um caso de corrupção pelo jovem engenheiro enviado como um gerente de projeto para Cabinda", disse à AFP André Buffard, o advogado da família.