Os doentes, alguns deles com acompanhantes, começaram cedo a fazer o check-in no Aeroporto de Lisboa, com várias malas e outros pertences embalados, alguns dos quais após uma estadia de anos em Portugal, para onde vieram fazer tratamentos de que o sistema de saúde angolano não dispunha.
Com estes doentes viajam também representantes do sistema de saúde angolano e ainda outros cidadãos que aproveitaram este voo humanitário para regressar, após ficarem retidos em Portugal devido às medidas adotadas pelo executivo português para combater a covid-19.
Estes doentes angolanos não quiseram prestar declarações à agência Lusa, mostrando-se nervosos com o aproximar da hora do embarque num voo de volta ao país que deixaram por motivos de saúde.
Enquanto estiveram em Portugal beneficiaram dos acordos entre Angola e Portugal, que permitem que estes doentes usufruam de tratamentos nos serviços de saúde portugueses, além de alojamento e um subsídio, cujo valor variava.
Contudo, a junta médica de Angola em Portugal terminou em fevereiro, o que pressupõe o fim do apoio aos doentes que tenham, entretanto, recebido alta médica.
Segundo o Governo angolano, antes do fecho desta junta médica encontravam-se em Portugal 385 cidadãos, entre doentes e acompanhantes. O fecho da junta seguiu-se a uma auditoria que avaliou os doentes e terá detetado “vários abusos no uso deste mecanismo”.
De acordo com o executivo angolano, durante o tempo de junta médica da colaboração Angola e Portugal foram atendidos 9.360 doentes, apoiados em 5.250 acompanhantes, que terão custado ao Estado angolano cerca de seis milhões de euros por ano.
O custo médio da estadia e tratamento, por doente, ronda entre os 2.700 euros e os 2.900 euros por mês, aos quais se somam os custos de estadia do acompanhante.
Fonte oficial do Governo angolano disse à Lusa que os 27 doentes que regressaram hoje vão juntar-se aos 17 que já tinham optado por voltar, por meios próprios, porque tinham a sua situação de saúde resolvida.
No entanto, vão com medicamentos para três meses e consultas de revisão em Portugal marcadas.
A mesma fonte disse que ficaram ainda 47 doentes e 20 acompanhantes que continuarão a receber o apoio do Estado angolano até que regressem, o que deverá acontecer até final do ano.
Os outros cerca de 100 doentes que optaram por não regressar ficarão por conta própria e não terão o apoio do Estado, nem para o pagamento do quarto na pensão onde ainda vivem, nem para despesas.
Esta fonte referiu que os doentes que agora regressaram têm patologias que não tinham tratamento em Angola na altura em que foram para Portugal, mas que, entretanto, o sistema de saúde angolano passou a disponibilizar.
O acordo de cooperação no domínio da saúde entre Angola e Portugal continua em vigor e, por isso, sempre que um angolano necessite de um tratamento que não tenha resposta nos serviços angolanos será transferido para Portugal, a custas do seu país.
Este regresso tem sido contestado por vários doentes angolanos que garantem não terem tido alta médica e que alegam que ainda precisam de cuidados médicos em Portugal.
Vários deles aguardam por um transplante ou fazem uma hemodiálise específica, assim como tratamentos oncológicos que dizem não existirem em Angola.
Nos últimos meses, estes doentes realizaram várias manifestações em Lisboa, a reclamarem o atraso no pagamento dos subsídios e contra o anúncio do regresso a Angola, após o fim da junta médica.