Urgências dos Hospitais de Luanda à beira da ruptura devido à malária e a doenças diarreicas

Post by: 12 Mai, 2021

As urgências dos principais hospitais da província de Luanda registam há já alguns dias elevada procura o que obriga a que os pacientes fiquem largas horas à espera de serem atendidos, estando mesmo algumas destas unidades em risco de ruptura da sua capacidade de atendimento.

A malária e as doenças diarreicas são apontados pelos médicos com quem o Novo Jornal falou como sendo as principais patologias por detrás desta situação preocupante .

Os enormes amontoados de lixo e as chuvas que caíram sobre a província de Luanda são, segundo o Sindicato Nacional dos Médicos em Angola, os factores-chave para o agravar da situação sanitária em Luanda.

As enchentes nas principais unidades sanitárias de Luanda foram constatadas numa ronda que o Novo Jornal realizou pelos hospitais Geral do Cazenga, Cajueiro, Américo Boa Vida, David Bernardino e Josina Machel "Maria Pia" tendo verificado também uma grande morosidade no atendimento aos pacientes.

Margarida Dala, de 34 anos, que há uma semana apresenta febres altas e tonturas deslocou-se bem cedo pela manhá de terça-feira,11, ao Hospital Geral do Cazenga e até às 14:00 não tinha ainda sido atendida.

No banco de urgência do Hospital dos Cajueiros, a fila dos pacientes à espera para serem atendido era de grande dimensão e, mesmo fazendo as devidas reclamações ao gabinete dos utentes, nada parecia estar a ser resolvido.

Uma cidadã com o filho ao colo, ardendo de febre, gritava em lágrimas por socorro porque não era atendida desde o período da manhã.

Desesperada, e sem ser ouvido face à enchente, a jovem mulher contou ao Novo Jornal que veio transferida do Centro de Saúde do Rangel para o Hospital dos Cajueiros onde aguardava por um atendimento ao seu filho de tenra idade.

Vários pacientes com queixas de patologias diversas, uns em estado grave e outros moderados, aguardavam largas horas nas filas de espera dos hospitais do Américo Boa Vida, e Josina Machel "Maria Pia", sendo as diarreias e as febres altas as principais preocupações.

No Hospital Pediátrico David Bernardino, o cenário não diferiu, onde muitos pais aguardavam de forma desesperada por um atendimento para os seus filhos.

Ao Novo Jornal alguns utentes disseram que a situação se agravou nos últimos dias e que está muito difícil uma criança ser atendimento no dia em que chega em busca de ajuda.

"Aqui só atendem quem tem padrinho, ou melhor, com conhecimentos ou pagar a algum funcionário do hospital", explicou um cidadão que luta por um atendimento para o seu filho há três dias.

"Nós avisamos e ninguém nos ouviu. Agora estão aí os resultados, enchentes nos hospitais e muitos óbitos", afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Médicos em Angola, Adriano Manuel em declarações ao Novo Jornal.

Segundo o médico, 90 por cento das patologias que vão para estes hospitais são passíveis de serem prevenidas mas isso não sucede sem que se perceba porquê, adverte o médico e sindicalista.

"Se nós prevenirmos não vamos ter hospitais cheios de pacientes. As enchentes que se verificam surgem por não haver médicos e enfermeiros no sistema de saúde em número suficiente", disse.

"Não temos médico e enfermeiros", prossegue, sublinhando que os chamados agentes sanitários que vão ao encontro das comunidades identificar os principais focos e actuar para que as doenças não se proliferem, "não existem" de forma adequada.

De acordo com Adriano Manuel, "as autoridades não trabalharam na prevenção mesmo sabendo das doenças que os amontoados de lixo iriam causar entre as populações".

Adriano Manuel entende que o Governo de Luanda não tratou o assunto do lixo com a responsabilidade que se impunha.

"O casamento do lixo com a chuva desembocou nessas enchentes que hoje observamos, com 80% dos doentes com malária, diarreias e gastroenterite, febre tifóide ou dengue", disse o médico.

Segundo o sindicalista, muitos dos doentes que são operados nas urgências médicas é por perfuração de úlceras - feridas que podem aparecer em qualquer parte do organismo -, em consequência da febre tifóide, situação que já tinha sido alvo de advertências.

"Vivemos uma situação grave e se o Governo não olhar para este cenário nos próximos tempos vamos ter uma situação insustentável com a cólera", avisou.

Recentemente, a ministra da saúde, Sílvia Lutucuta, assegurou não haver em Luanda casos de cólera mas não descartou a possibilidade de Luanda vir a assistir a um surto da doença em face da actual situação precária de higiene que atravessa.

Sobre o assunto, o Novo Jornal tentou sem sucesso ouvir esclarecimento da Direcção Provincial de Saúde de Lunada.

No entanto, uma fonte do Ministério da Saúde confidenciou que este assunto foi recentemente abordado ao mais alto nível. NJ

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