“E é esta necessidade de coração misericordioso, dialogante e compassivo que o país precisa no momento presente da sua história. Os acontecimentos de ontem [segunda-feira] manifestam que há necessidade imperiosa de um diálogo social intenso”, afirmou o bispo católico durante uma homilia.
Para Belmiro Chissengueti, que falava na missa transmitida pela Rádio Ecclesia – Emissora Católica de Angola, “os que têm a responsabilidade na condução do Estado não se devem exilar das suas responsabilidades”.
“Estão lá para criarem pontes de comunhão, para ajudarem a conservar o bem maior alcançado há 20 anos, o bem da paz, então nós, os mais velhos que conhecemos a história desse país e a vivemos na carne estamos apreensivos com sinais que não são nada positivos e a nossa apreensão é legítima”, notou.
O primeiro dia da paralisação dos taxistas em Luanda, na segunda-feira, foi marcado por atos de vandalismo num autocarro do Ministério da Saúde, que ficou completamente carbonizado, e na sede do comité distrital do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), em Benfica (arredores de Luanda), ato atribuído a um grupo de cidadãos detidos pela polícia para julgamento sumário.
Segundo o bispo católico, “as dificuldades sociais do país são muitas, não podem ser escondidas, e devem ser satisfeitas”.
“Temos de ter sabedoria, paciência e coragem de dar resposta à situação atual que vivemos de crise”, acrescentou.
Para o religioso, “não encontrar culpados e levar o país à pancadaria, ninguém ganha com isso”, pedindo aos jovens “paciência e sentido de história”.
“Paciência, não para silenciar suas reivindicações, que devem ser ouvidas em diálogo permanente e inclusivo, mas também não estragar os bens públicos, porque cada autocarro que se estraga é mais um dano, cada viatura que se estraga é menos um bem, cada bem público que é danificado somos nós mesmos os mais prejudicados”, exortou.
O também porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) defendeu também que “os que têm autoridade devem ir ao encontro dos jovens de forma a se encontrar políticas de trabalho visando empregar a juventude”.
“Assim, olhando o país com olhos de ver, aquilo que é prioritário neste momento é que as lideranças dos principais partidos deste país em nome deste povo que se encontrem, não radicalizem as suas posições porque ninguém ganha com isto”, frisou.
Belmiro Chissengueti considerou ainda ser necessário que as lideranças se “possam dar as mãos, dando sinais positivos aos respetivos seguidores e retirando da cabeça dos fanáticos, aqueles que há muito perderam a racionalidade, a perspetiva de que a violência não é caminho a seguir”.
“Ninguém ganha nada, só perdemos”, frisou.
Luanda foi palco de distúrbios e atos de vandalismo no primeiro dia da greve convocada por três associações de taxistas, incidentes que resultaram na detenção de 29 pessoas.