Bispos católicos angolanos alertam para “perigoso vazio de diálogo” entre governantes e a população

Post by: 01 Fevereiro, 2022

Os bispos católicos angolanos consideraram hoje que se verifica em Angola um “perigoso vazio de diálogo” entre "governantes e governados" e entre as lideranças partidárias, o que “eleva o radicalismo e intolerância”, num contexto de “assustadora” pobreza.

Na abertura da primeira assembleia plenária ordenada da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), o presidente da organização, José Manuel Imbamba, afirmou que há, em Angola, uma “evidente degradação dos hábitos e costumes do comportamento social, das atitudes e do civismo” e verifica-se “um perigoso vazio entre os governantes e governados, entre as lideranças partidárias e entre os vários atores cívicos”.

“Elevando ainda mais os níveis de ansiedade, de radicalismo, intolerância, indisciplina, violência física, verbal, moral e psicológica”, afirmou o prelado na abertura da assembleia que decorre até 07 de fevereiro, na província angolana de Benguela.

Para José Manuel Imbamba, os meios de comunicação social, sobretudo públicos, “também estão a contribuir para o atual ambiente sombrio e nefasto” cujo desempenho, notou, “em nada contribui para a harmonia social, paz dos espíritos, para cultura do diálogo, da democracia e da fraternidade social”.

“Daí o meu apelo à serenidade, ponderação, abertura de espírito e ao acolhimento e aceitação mútua em nome da pátria, em nome de Angola. Que os partidos não sejam mais importantes do que o país e as bandeiras partidárias que inundam as aldeias não suplantem a bandeira da República”, exortou.

O também arcebispo de Saurimo defendeu, na sua intervenção, a necessidade de se “ter coragem de encarar e curar com verdade as causas dos nossos problemas para evitarmos soluções fugazes e com pouco impacto na vida normal dos cidadãos”.

O presidente da CEAST assinalou igualmente a problemática da seca e a consequente fome que “continuam a ser um drama” para milhares de famílias no sul de Angola, enaltecendo, no entanto, as ações locais desenvolvidas pelo Governo angolano.

A decisão e determinação em “continuar a breve, médio e longo prazo com os projetos, alguns já em curso, de construção para a garantia de água constitui sem dúvida um sinal de esperança em dias melhores para as comunidades daquela parcela do nosso território”, notou.

“Que tudo seja feito no sentido de se caminhar neste sentido, ao mesmo tempo que não se prescinda de uma resposta rápida e regular para minimizar a fome dos nossos irmãos através de declarações de estado de crise, nas suas possíveis variantes, campanhas permanentes de recolha de alimentos por parte de organizações civis e pessoas singulares, sem aproveitamentos políticos”, frisou.

A vida pastoral da igreja católica angolana e a condição sociopolítica e económica do país são alguns dos pontos que vão nortear os trabalhos dos bispos católicos, que devem igualmente produzir uma nota pastoral sobre as próximas eleições gerais.

Em Benguela, bispos católicos angolanos vão igualmente prestigiar a cerimónia de sagração episcopal do padre Estêvão Binga, a bispo auxiliar de Benguela, após ser nomeado pelo papa Francisco.

Os padres António Lunguieki Bengui e Fernando Francisco, nomeados em 2021 pelo papa Francisco a bispos auxiliares de Benguela, foram consagrados ao cargo na segunda quinzena de janeiro de 2022.

“A igreja de Angola acolheu com alegria, entusiasmo e gratidão à Deus a nomeação de novos bispos da CEAST pelo papa Francisco, esta injeção de sangue novo e as sucessivas ordenações emergem como sinal inequívoco de crescimento e maturidade a igreja em Angola”, realçou José Manuel Imbamba.

Uma igreja “mais dinâmica, ágil, mais presente na vida das pessoas” e de todas as realidades socioculturais e política e “mais próxima possível dos mais desfavorecidos, dos mais pobres, das minorias étnicas” é o que augura ainda o presidente da CEAST.

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