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Eleições 2017: Luanda em fim de festa: muda ou não muda?

Post by: 20 Agosto, 2017

No bairro do Rangel aposta-se na goleada do MPLA no dia 23

No bairro do Rangel, onde viveram os pais do presidente José Eduardo dos Santos, o prognóstico é de goleada para o MPLA.

"5-0! O MPLA vai dar 5-0 no Rangel!" O prognóstico foi repetido durante a campanha do maior partido em Angola e no bairro do Rangel, um militante ergue a mão aberta, dedos bem esticados, para adivinhar a goleada. Neste bairro, a estrada principal está alcatroada, mas basta virar numa das transversais para entrar num musseque, ou seja, um bairro de lata, onde o caminho se torna de terra batida, os barracões velhos estão sujos de graffiti, as lojas têm grades, os moradores sentados nas bermas ou nas escadas vigiam os estranhos, um tronco de árvore surge no meio de um cruzamento para assinalar um buraco na estrada.

Era no musseque do Rangel que moravam os pais de José Eduardo dos Santos, embora poucos se devam lembrar desse tempo. Aqui, as ruas estão cheias de jovens, crianças e, por estes dias, bandeiras do MPLA, penduradas em cada esquina, varanda ou janela. Num terreiro vestido com as cores do partido - preto, vermelho e amarelo -, a música anima o "convívio", uma ação de campanha em que a estrela é o Puto Lilas, um artista de kuduro, filho do bairro, autor da música que todas as crianças cantam em coro:

"O MPLA é escola

João Lourenço é pai, vai cuidar dos filhos."

O cantor, de 28 anos, explica que os artistas "não podem ficar fora das eleições". O MPLA foi o partido "que nos viu crescer" e, sendo a mudança indispensável, "temos de acreditar nos nossos candidatos". Já antes, o candidato João Lourenço tinha andado por perto, no Mercado dos Congolenses, onde os apoiantes do MPLA se cruzaram com os que estão do lado da CASA-CE, a coligação liderada pelo antigo dirigente da UNITA, Abel Chivukuvuku.

As ruas no centro de Luanda encheram-se de carrinhas, carros e motos dos dois partidos, seguidos de perto por polícias armados, em jeito de fim de festa. Uma onda amarela, a cor da CASA-CE, percorreu o mercado dos congolenses até ao Largo das Escolas, onde Chivukuvuku tinha marcado o comício de encerramento. Entre buzinas, camiões de som, bandeiras, T--shirts e música, dezenas de jovens balançavam-se com a promessa de "vamos lá fazer a nossa festa", com "o nosso mais velho, pai e irmão, Chivukuvuku presidente".

Onda amarela de Abel Chivukuvuku e do CASA-CE percorre as ruas de Luanda

Juliana Alberto, 21 anos, que vai votar pela primeira vez na quarta-feira, vê no líder da CASA-CE, o presidente da mudança, especialmente dirigida aos "jovens que têm poucas oportunidades", porque os que lá estão "puxam pelos que conhecem, enquanto nós somos esquecidos". Esta estudante de Fisioterapia avalia José Eduardo dos Santos como "um presidente excelente", mas espera que a aposta do chefe de Estado seja nas escolas, hospitais e centros de saúde, confessando que está ansiosa, pois há muito tempo espera pela oportunidade de votar e mudar.

"Muda ou não muda? Desta vez, muda" foi uma das frases mais usadas pelo animador do comício da CASA-CE. Na plateia, Kitoko Paulo conta que não tem água em casa, no bairro de Cazenga. Tem de comprar um bidão que lhe custa demasiados kwanzas e "a água é vida", lembra, para defender que a CASA-CE é a "coligação da mudança e da juventude". Ao lado de Kitoko, António queixa-se também da "bandidagem que pode acabar com Luanda", sublinhando que a política social da CASA-CE é mais forte do que a da UNITA.

O partido do galo negro fecha a campanha nesta segunda-feira, em Luanda, e desvaloriza a sondagem em que aparece atrás da coligação liderada por Chivukuvuku. Em declarações ao DN e à TSF, o secretário da presidência para os assuntos eleitorais, Vitorino Nhany, insiste na falta de transparência e lisura do processo, apelando aos eleitores que denunciem as irregularidades e a uma atenção particular por parte dos observadores internacionais, em especial nos grandes círculos eleitorais de Luanda, Huíla, Benguela, Huambo, Uíge e Bié.

A UNITA receia "alguma instabilidade" caso se repita o cenário das eleições de 2012, com "urnas-fantasma" e fraude eleitoral, mas Vitorino Nhany assegura que a guerra "pertence à história". "O conflito armado ensinou-nos muito", afirma, "agora o conflito deve ser pela força das ideias e não pelo argumento da força".

Enviada DN/TSF a Luanda

Last modified on Domingo, 20 Agosto 2017 23:54

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