Falando sobre as perspetivas do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC 2024) que decorre na próxima semana em Pequim, o especialista espera que o encontro impulsione Angola e demais Estados africanos a alterarem o modelo de cooperação com a China.
Angola deve trabalhar para alterar a relação que tem com a China, nomeadamente “do ponto de vista da atração de investidores. Angola consegue atrair muito mais o setor do comércio, enquanto penso que deveria procurar atrair o setor industrial”, afirmou hoje Osvaldo Mboco em entrevista à Lusa.
Defendeu que, para Angola, “seria crucial” que a sua estratégia de atração de investidores chineses estivesse voltada, essencialmente, para a instalação de unidade fabris no território angolano.
“Com isso estaria a concorrer para aumentar o fluxo de negócios a nível do Estado angolano e empregar maior número de jovens angolanos, a dar poder de compra às famílias e a circular maior dinheiro no sistema financeiro angolano”, frisou.
É necessário, contudo, o país lusófono fazer melhorias e reformas estruturais e estruturantes, visando a alteração do atual ambiente de negócios, “que é um dos piores do mundo”, disse, para que grandes empresas chinesas se instalem em Angola.
“Temos que fazer este trabalho de casa, visando alavancar a economia angolana, porque o nosso grande estrangulamento é no ambiente de negócios”, referiu, considerando que a abertura de grandes centros comerciais chineses, não alavancam a diversificação da economia.
O FOCAC 2024 decorre entre 04 e 06 de setembro próximo em Pequim, uma cimeira que se constitui num “instrumento importante” da política externa da República Popular da China para com o continente africano, sinalizou.
As relações entre Angola e a China, maior credor do país africano com qual mantém uma parceria estratégica e um Acordo Geral assinado em 1983, “fundamentam-se essencialmente em linhas de financiamento para a reconstrução de Angola”, recordou o analista.
Para Mboco, é hora de se alterar a modalidade de pagamento da dívida com a China, maioritariamente paga com o petróleo angolano.
“Temos de começar a pensar que a nossa modalidade de pagamento deve cingir-se essencialmente no pagamento em dinheiro, penso que isso já tem sido feito, mas não na dimensão que era expectável”, notou.
Durante a visita do Presidente angolano, João Lourenço, à China, em março passado, foram negociados novos termos para o pagamento dos 17 mil milhões de dólares (15,7 mil milhões de euros) que Angola deve à China e que fazem do país lusófono o maior devedor africano aos asiáticos.
O embaixador chinês em Angola, Zhang Bin, disse esta semana em entrevista à agência angolana Angop que a dívida de Angola para com o seu país diminuiu, durante o ano passado, de 17,9 mil milhões de dólares para 16 mil milhões de dólares, “graças à atualização da forma de pagamento”.
Osvaldo Mboco considerou, por outro lado, que o FOCAC visa reafirmar e consolidar a presença chinesa em África e deverá permitir o alargamento das trocas comerciais e novos acordos económicos.
Destacou que Angola e mais 20 países africanos fazem parte do acordo de tarifa zero a 98% das mercadorias africanas a serem exportadas para a China, referindo, no entanto, que estes países não têm estado a valorizar esse acordo
“Têm estado a aproveitar mal isto (o acordo)”, criticou, defendendo que deveriam "consolidar e melhorar o perfil agrícola” e exportar alimentos para a China tendo em atenção que é um país de tamanho continental.