"As finanças públicas de Angola vão beneficiar da recuperação em curso nos preços do petróleo, juntamente com uma marcada melhoria na produção à medida que os principais poços de petróleo entram em funcionamento", lê-se numa análise à economia de Angola.
No relatório, enviado hoje aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas desta consultora do grupo da agência de 'rating' Fitch escrevem que "apesar de o aumento das receitas ir encorajar o Governo a aumentar moderadamente a despesa, abrandando o ritmo da consolidação, espera-se que o défice orçamental melhore, de uma estimativa de 4,3% em 2017, para 2,9% em 2018 e 2% em 2019".
O Governo de Angola antecipa para este ano um défice de 3,4%, contra os 2,9% previstos pela BMI; os analistas também são mais otimistas que o Governo no que diz respeito ao preço médio do barril de petróleo este ano, já que esperam um preço de 67 dólares, ao passo que o executivo prevê que o barril custe, em média, 50 dólares.
Os analistas, no entanto, sublinham que "as melhorias na dinâmica orçamental vão ser de pouca dura", já que a descida da produção de petróleo em Angola a partir do próximo ano "vai resultar num aumento gradual do défice".
Sobre a dívida pública angolana, que sofreu uma significativa deterioração nos últimos anos, devido à opção governamental de aumentar o endividamento para compensar a quebra nas receitas decorrentes da descida do preço do petróleo, a BMI Research considera que o Governo vai conseguir honrar os seus compromissos.
"A nossa visão mantém-se, e aponta para que Angola consiga cumprir as suas obrigações de dívida no curto prazo, mas os riscos relativamente à composição da dívida e o potencial de volatilidade nos mercados petrolíferos globais mantêm-se", escrevem os analistas.
Até ao final do próximo ano, Angola vai ter de pagar 8,9 mil milhões de dólares de dívidas, mais de 45% do total, a que acrescem mais 5 mil milhões de dólares em dívidas alegadamente atrasadas, mas a BMI considera que o país vai conseguir pagar os compromissos.
"O Governo parece estar a usar em seu benefício os relativamente baixos custos de financiamento para os mercados emergentes, alargando o perfil de maturidade da dívida, e o Ministério das Finanças já anunciou planos para se endividar em mais 2 mil milhões de dólares em 'eurobonds' [emissões em moeda estrangeira] este ano", diz a BMI.
"Uma elevada exposição a dívida em moeda estrangeira vai continuar a colocar um desafio, principalmente depois da depreciação do kwanza em quase 23% desde o início do ano, mas mantemos a nossa perspetiva de que, dadas as condições externas favoráveis, o Governo está bem posicionado para suportar o aumento do custo de servir a dívida externa", concluem os analistas.