Em entrevista à Lusa à margem do Fórum Angotic Angola 2019, que decorreu em Luanda, o sul-africano Brian Jakins, no cargo de uma das maiores construtoras mundiais desde novembro de 2015, referiu que a margem de crescimento passa sobretudo pela aposta em parcerias entre o Governo angolano e o setor privado nas comunidades rurais.
"Angola ainda não cobre sequer 50% ou 60% do potencial que poderá atingir. E não se trata apenas da capacidade ou de comprar 'megabites' ou 'mega-hertz', mas sim encontrar soluções para os consumidores, de conectar veículos, autocarros, comboios, aviões, capacidade não para investir em muitas infraestruturas, mas em ter conectividade e mantê-la permanentemente", sublinhou.
Brian Jakins considerou bem-vindo o foco do Governo angolano no setor da transformação digital, mas defendeu que o executivo tem, primeiro, de olhar para "todos os aspetos", desde os cabos de fibra ótica subaquáticos aos satélites, "para satisfazer a procura".
"[O mercado] vai crescer significativamente e penso que, com a abertura do Governo a estas novas tecnologias, haverá muito mais para oferecer aos consumidores e um maior crescimento. Mas tem de haver sempre a colaboração entre o Governo e o setor privado", frisou.
Segundo o gestor da Intelsat, a situação económica "difícil" por que Angola passa não tem sido impeditiva para o investimento da construtora de satélites num país onde já opera há mais de duas décadas e em que, disse, tem parcerias "fortes com todos os operadores móveis".
"O mercado está destinado a crescer com a transformação digital. Com o advento do 3G, do 4G e do 5G todos os operadores em Angola vão necessitar de uma rede suficiente para satisfazer essa procura. Há pessoas que têm um, dois, até três telemóveis à medida que os smartphones vão ficando mais baratos e a tecnologia surge mais sofisticada. Vamos assistir a um crescimento em massa na vertente de dados", disse.
Por explorar, prosseguiu, está sobretudo o vetor das comunidades rurais, uma vez que, dotando-as de meios técnicos, "serão capazes de ajudar a dinamizar a economia local, contribuindo para o PIB [Produto Interno Bruto] do país". "Já vimos isso em muitas comunidades rurais em todo o mundo", disse.
Para Brian Jakins, esta situação em Angola é comum à grande maioria do continente africano, lembrando o caso de um campo de refugiados oriundos do antigo conflito na Costa do Marfim criado no vizinho Gana, onde foram recenseadas cerca de três milhões de pessoas e onde a Intelsat instalou um "data centre".
"Criámos lá um 'data centre' através de parcerias e criámos conectividades, as pessoas começaram a utilizar a Net, estão a estudar, estão a comunicar com a família que ficou na sua terra, estão a desenvolver as suas capacidades, a ajudar na economia local e a produzir qualquer coisa, em vez de estarem sentados sem nada fazer", contou.
"Isto teve um êxito enorme. Cerce de 65% a 70% das comunidades africanas estão nas zonas rurais. Podemos fornecer-lhes os meios, acesso e capacidades e elas vão transformar a economia local de formas muito variadas", acrescentou, salientando as várias possibilidades em termos de custo - "da simples antena até à edificação de uma infraestrutura robusta".
Segundo Brian Jakins, África ainda tem o menor e menos explorado mercado do mundo, contando com cerca de 300 milhões de conexões para uma população de quase 1.600 milhões de habitantes.
"O crescimento está à vista. Não se pode vir para este continente e não investir. Tem de se investir no longo prazo e é isso que a Intelsat está a fazer há muitos anos. Selecionamos os parceiros, trabalhamos com eles, investimos neles para que possam fazer crescer o seu negócio e construir as suas próprias infraestruturas e servidores que os clientes necessitam. Vamos continuar a fazer isso", afirmou.
Brian Jakins concluiu lembrando a aposta da Intelsat no continente africano.
"Temos seis satélites no mundo, três deles em África. Isso mostra a importância que África tem para a Intelsat", declarou.