"África pode ser a nova fábrica do mundo, sem as condicionantes negativas da poluição, uma indústria sem chaminés", disse Hippolyte Fofack durante a conferência virtual "O Caminho de África para a Globalização", organizada pela escola norte-americana de gestão Thunderbird, no âmbito dos Diálogos Globais Thunderbird: Série Africa Edition.
Na intervenção, dedicada às potencialidades do acordo sobre a Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA), que entrou em vigor em janeiro deste ano e que pretende reduzir as tarifas alfandegárias em todo o continente, Fofack enquadrou o acordo na história do continente, defendendo que a globalização, um processo inevitável e irreversível, não beneficiou África.
"A globalização não resultou para África, uma região onde os modelos de desenvolvimento colonial de extração de recursos foram prejudiciais, não deixando o continente integrar-se nas cadeias de valor globais", argumentou.
As matérias-primas, continuou, valem 80% das exportações dos países africanos para fora do continente, o que impede estes países de colherem as vantagens da globalização, um processo que tem "globalizados" e "globalizadores".
"Os globalizados são os países que perderam com a globalização, ao passo que os países que mais beneficiaram, como os asiáticos, são os países globalizadores", disse Fofack, vincando que o acordo em vigor "pode desfragmentar as economias africanas, criar um mercado e integrar as economias africanas na economia global".
Os países africanos "não mudaram a estrutura da economia, já que a tendência de exportações para o mundo, que se mantém apesar da flutuação dos destinos, minou a integração regional, originando que 70% dos pobres a nível mundial estejam em África".
Entre as principais propostas para a rentabilização do ALCCA, Fofack elencou a criação de parques industriais e zonas económicas especiais, a redução dos acordos bilaterais e uma subida dos protocolos feito com base nas regras do acordo, a aceleração da transferência de tecnologia em oposição a apenas investimento e a diversificação das fontes de crescimento económico.
"A industrialização e a transformação estrutural das nossas economias vai demorar tempo, mas temos o potencial para ser um globalizador e não um globalizado", concluiu.
O acordo sobre a ALCCA entrou em vigor em 01 de janeiro, com o objetivo de facilitar o comércio transfronteiriço através da redução ou eliminação de barreiras alfandegárias e tornar mais simples a circulação de pessoas e capital e a promoção do investimento e da industrialização do continente.
O acordo de livre comércio em África cria um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4 biliões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 biliões de euros, e abrange a grande maioria dos países africanos.