Os sinais de retoma da economia angolana são visíveis e também mensuráveis através do consumo e de uma perspetiva de que a atividade empresarial vai regressar, no mínimo, aos níveis pré-pandemia.
Um dos setores que aponta nesta direção é o do comércio automóvel, marcado por duas tendências. Uma delas tem a ver com o reforço da aposta da Salvador Caetano em Angola. A outra relaciona-se com a predominância chinesa, mostrando que Pequim imprimiu uma nova dinâmica às relações bilaterais que vai muito além da troca de financiamento por petróleo.
O grupo português Salvador Caetano, que está em Angola desde 1926, além de ter começado a representar desde o passado mês de abril a marca chinesa Cherry, também apostou em conquistar mercado subtraindo representações à concorrência.
Na concretização desta estratégia, a Salvador Caetano – que em Angola tem uma joint venture com o grupo espanhol Domingo Alonso (extensiva a Moçambique e Cabo Verde) – retirou à Teixeira Duarte Automóvel a representação da Citroën, Peugeot e DS Automobiles (carros de luxo), reforçou-se com as marcas do grupo VW (Volkswagen e Audi) e manteve o exclusivo da Ford.
Todavia, o mercado automóvel está diferente. As vendas de carros dispararam e as marcas chinesas transformaram-se nas grandes estrelas no que respeita a vendas. Esta realidade está plasmada na Jetour, marca do Império do Meio que em 2021 conquistou a liderança do mercado, destronando sul-coreanos e japoneses que dominavam o comércio automóvel através da Hyundai e Toyota. Curiosamente, a Jetour, representada em Angola pela ATAC (Alta Tecnologia Angola China), é uma marca detida pela “holding” Cherry, que escolheu a Salvador Caetano para o mesmo propósito.
A fórmula vencedora
A invasão chinesa do mercado automóvel angolano não se esgota na Jetour e na Cherry. A MG, Geely e Wuling são outras três marcas “made in China” que já estão em Angola. A MG tem o encanto britânico mas desde 2020 que está nas mãos do grupo chinês SAIC Motor Corporation Limited, a Geely tem representação própria em Angola e a Wuling é comercializada através do grupo Autostar.
Depois do ano horrível de 2020, em 2021 as vendas de automóveis em Angola deram os primeiros sinais de recuperação e expuseram a predominância chinesa. Dos 3.876 veículos ligeiros comercializados no ano passado, metade foram de construtores chineses.
A fórmula chinesa vencedora é feita pela combinação de dois ingredientes: preços baixos e empenho em conquistar um mercado que para outras marcas tem um valor marginal.
Em 2021, as exportações da China para Angola atingiram os 2,49 mil milhões de dólares, sendo que os produtos mais vendidos foram precisamente os automóveis e as peças sobressalentes, produtos de mobiliário e eletromecânicos.
“Nos próximos anos, as marcas chinesas de automóveis vão ocupar visivelmente o mercado angolano”, garantia Benny Ying, empresário e dono da Jetour Angola, em novembro de 2021, numa entrevista ao jornal Valor Económico. Essa previsão está a tornar-se realidade.
O mercado automóvel angolano tem ainda um largo potencial de crescimento caso ocorra uma estabilização do mercado cambial e a banca aligeire as regras para a concessão de crédito.
Jornal de Negócios