Fernando Teles expressou hoje o seu descontentamento com a situação durante a apresentação do Estudo Banca em Análise 2022, da Deloitte Angola, relatando dificuldades que os agricultores enfrentaram nos últimos meses, nomeadamente em vender milho.
“Nos últimos três meses, a carne de porco teve que ser queimada, porque não conseguiu ser vendida, porque decidiram importar sem pagar impostos, não há possibilidade de nós internamente conseguirmos competir com importações sem pagamentos de impostos”, afirmou.
Fernando Teles disse que “um dos maiores investidores agrícolas em Angola, o maior produtor de milho, soja, arroz, porco”, os produtores pagam IVA e enfrentam as dificuldades de infraestruturas, regozijando-se com o facto de a eletricidade ter chegado, há uma semana, a uma das suas fazendas, na Quibala.
“A verdade é que tem que haver políticas. Eu tenho falado com os senhores ministros e tudo assobia para lado, dá a impressão que o importante é quem importa, o importante é o produto chegar muito barato a Angola, mas temos que suportar os nossos custos, mais vale o país gastar um bocado no fomento da produção, eventualmente apoiando com eletricidade, com juros mais baratos”, referiu.
O também ex-bancário, com passagem pelo Banco de Fomento Angola (BFA) e presidente do conselho de administração do Banco BIC, disse que as medidas tomadas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) são suficientes, bem como os programas do Ministério da Economia e Planeamento, mas “o estrangulamento não está aí”.
“O estrangulamento está na concorrência desleal, criou-se aqui em Angola [o grupo] Carrinho e não só, que toda a gente sabe que tem o monopólio e os outros agricultores não conseguem funcionar. Temos que nos ajudar uns aos outros. A diversificação da economia está-se a falar todos os dias, nós estamos disponíveis para falar com as pessoas, para mostrarmos o que estamos a fazer”, salientou.
Segundo o produtor, estão presentes em sete das 18 províncias angolanas, com uma criação de 19.000 porcos no município da Quibala, província do Cuanza Sul, com 600 trabalhadores, e 12.000 vacas nas suas fazendas.
“Todos os dias semeamos milho, semeamos soja, todos os dias colhemos milho, todos os dias colhemos soja, mas dá a impressão que as pessoas não querem ver isso. Felizmente, o Presidente da República tem falado no incentivo à produção nacional, mas isso não está a acontecer. Dalem connosco e com os grupos que produzem milho e todos vão dizer a mesma coisa”, sublinhou.
Fernando Teles realçou que a Reserva Estratégica Alimentar (REA) ficou de levantar milho aos produtores, mas não cumpriu, tendo feito antes importação de milho.
“Não pode ser, se não querem matar os produtores nacionais a nível da agricultura têm que falar com os empresários, não podem fazer concorrência desleal aos empresários, não podem importar pura e simplesmente, andarem nas empresas a pedirem uma declaração para levarem ao comércio para fazer importação quando a gente sabe perfeitamente que a importação é mais fácil”, desabafou, questionando se “vale a pena” o esforço.
“Tem que haver um momento de reflexão, tem que haver um momento de chamar os empresários (…) não é criar uma empresa tipo Carrinho para nos vir fazer concorrência, não é isso, é para nos ajudarmos uns aos outros. A Carrinho deve existir, mas não é para vir fazer concorrência, não é para importar o produto ao preço que os empresários nacionais não conseguem produzir a esse preço”, ajuntou.
De acordo com Fernando Teles, o clima é de descontentamento e desmotivação entre os empresários, “a pensar o que é que vão fazer para o futuro”.
“Eu todos os dias invisto na agricultura e na pecuária, os meus projetos são iguais ao do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos, podemos comparar. Nós temos extrusora para a soja, temos óleo de soja, temos fábrica de ração, temos fábrica de fuba, temos porcos, entramos nos frangos agora, estamos a fazer todos os dias milho e soja. (...) Tem que se frear a importação descabelada de gente que faz o seu papel da importação, mas só quer pôr o dinheiro no bolso ao fim do mês”, expressou.