"Viemos aqui demonstrar que, agora, é de facto ao setor privado a quem compete puxar a economia para a frente", disse Joffre Van-Dúnem, à agência Lusa, em Changsha, no centro da China, onde participa na primeira Exposição Económica e Comercial China/África.
"O Estado vai apenas regular, mas neste novo paradigma não intervém diretamente no setor económico", assegurou.
A cooperação da China com Angola, e com África em geral, tem sido dominada pelas relações entre Estados: bancos estatais chineses concedem empréstimos para construção de infraestruturas, a cargo de empresas estatais chinesas, servindo os recursos naturais dos respetivos países como colateral.
No caso de Angola tem sido o petróleo a suportar as linhas de crédito abertas pelo Governo chinês, através de vários dos seus bancos estatais de investimento.
Atualmente, a dívida de Angola à China ronda os 23.000 milhões de dólares (20.100 milhões de euros), tendo Pequim aprovado, no final de 2018, uma nova linha de financiamento de 2.000 milhões de dólares (1.750 milhões de euros).
Em declarações à agência Lusa, Joffre Van-Dúnem disse que Angola quer agora diversificar a balança comercial com a China.
"Tivemos muitos anos sem pensarmos no assunto, mas está na hora da viragem: Angola está agora, de facto, virada para a diversificação da economia", disse.
"Trouxemos alguns produtos, poucos, mas aqueles que temos capacidade para começar a ter excedente para exportar", explicou.
Organizada em conjunto pelo ministério do Comércio chinês e o governo da província de Hunan, a Exposição que este fim de semana se realiza em Changsha foi lançada no âmbito do Fórum de Cooperação China-África, e visa estabelecer um "novo mecanismo" de cooperação comercial e económica entre a China e os países africanos.
Mais de 1.500 convidados estrangeiros e 5.000 convidados chineses participam no evento, que conta com 3.500 expositores, compradores e visitantes profissionais, segundo a organização.
O evento faz parte dos esforços de Pequim em promover a sua abertura ao comércio internacional, numa altura em que as potências ocidentais acusam as políticas comerciais de Pequim de violar os seus compromissos de abertura.
No stand de Angola - um dos maiores do certame - estiveram representadas 83 empresas do país, segundo a Câmara de Comércio China Angola, abrangendo pescas e mariscos, produtos típicos angolanos, como a fuba, ou do setor das bebidas, através do grupo Refriango.
Um grupo de música e dança, envergando trajes típicos de Angola, atraiu a curiosidade dos visitantes chineses.
Lembrando que a China é um "parceiro estratégico" de Angola, o ministro do Comércio disse esperar que o "setor privado chinês possa, de facto, perante a vontade manifestada pelo Presidente chinês [Xi Jinping], realmente começar" a importar de Angola.
Os habitantes urbanos compõem já a maioria da população na China, que está a encetar um ambicioso plano para competir nos setores de alto valor agregado.
"Esta transformação obriga a que eles tenham que ir buscar a outros mercados, que consigam alimentar esta sua capacidade e esta sua determinação em desenvolver o país do ponto de vista económico e social", afirmou Joffre Van-Dúnem.
O ministro disse ainda esperar que o "investimento privado chinês possa de facto ajudar a alavancar a nossa economia, a desenvolver infraestruturas e com isso criar condições".
"Estamos a tratar de desenvolver o 'software', mas Angola precisa do 'hardware' também: estradas, portos, caminhos de ferro", assinalou.