Informações postas a circular ao princípio da tarde desta quinta-feira, apontam que o estado de saúde de Afonso Dhlakama deteriorou-se nos últimos dias.
Dhlakama terá morrido a bordo de um helicóptero que o transportava para tratamento médico urgente. O líder do maior partido de oposição de Moçambique tinha 65 anos e vivia na região na Gorongosa, no centro do país, para onde se mudou após o regresso da guerra civil, em 2014. Desde o último cessar-fogo entre a Renamo e a Frelimo, no poder, em Março de 2017, que se esperava que Dhlakama regressasse a Maputo e liderasse a oposição a partir da capital
De nome completo Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o líder da Renamo nasceu a 1 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava em Sofala. É filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde.
Dhlakama ingressou na FRELIMO em 1974, mas abandonou o Movimento em pouco tempo, tornando-se um dos fundadores da Resistência Nacional de Moçambique. Foi quando morreu André Matsangaíssa, em combate na Gorongosa, a 17 de Novembro de 1979, que Dhlakama tornou-se presidente do movimento tendo assumido as rédeas em 1980. Dhlakama assumiu assim a guerrilha com 27 anos de idade. Foi com a sua liderança que guerra civil, que durou 16 anos, se expandiu para todo o território nacional e desestruturando o país ao nível económico e social. O que levou o governo a negociar com o regime do Apartheid que financiava a Renamo um acordo de não agressão em 1984. No tal acordo o governo moçambicano deixaria de apoiar o ANC que lutava contra o então regime sul-africano, e este por sua vez a Renamo.
Em finais da década de 80, Afonso Dhlakama dirige do lado da Renamo as negociações com o governo na altura liderado por Joaquim Chissano o Acordo de Paz, sob mediação da Igreja Católica em Roma, tendo como principal agenda a desmilitarização da Renamo e integração dos seus efectivos nas Forças de Defesa e Segurança Nacionais e a introdução do Multipartidarismo, um Estado de Direito Democrático em Moçambique e realização periódica de eleições. Após consensos, a 4 de Outubro de 1992 viria a assinar o acordo com o então presidente da República, Joaquim Chissano em Roma na Itália.
A partir daí, a RENAMO transformou-se num partido político, e Afonso Dhlakama de líder militar para líder político, tendo concorrido às primeiras eleições presidenciais em 1994, nas quais obteve cerca de 33% contra 50% de Chissano.
Nas eleições presidenciais de 1999, Afonso Dhlakama perdeu para Chissano. A margem foi bem menor. O líder da Renamo somou 47,71 % e o da Frelimo 52,29%. A Renamo contestou a validade destas eleições e, cerca de um ano depois, em novembro de 2000, houve violentas manifestações por todo o país, fomentadas pela Renamo. Dhlakama e Chissano tiveram que voltar às negociações para repor a normalidade no país.
Voltou a concorrer nas duas eleições seguintes e perdeu para Armando Guebuza em 2004 e 2009 respectivamente.
Afonso Dhlakama decidiu em 2010 abandonar a capital do país, onde residia desde 1992 e fixa residência em Nampula. Após um diálogo fracassado com o Armando Guebuza, então presidente, o governo enviou forças militares e paramilitares para as proximidades da sua residência, na cidade de Nampula. Este e outros acontecimentos levaram a que o líder da RENAMO abandonasse mais uma vez a sua residência na cidade de Nampula, tendo-se dirigido para o antigo quartel-general da Renamo, no povoado de Sathundjira, localidade de Vunduzi, distrito de Gorongosa, na província de Sofala.
A partir de lá dirige um novo confronto militar com as forças governamentais que inicia em 2013 com ataque a um posto policial em Muxúnguè após tentativa de dispersão dos seus antigos militares que estavam estacionados na delegação local da Renamo. Em resposta o forças governamentais atacaram o local onde vivia Afonso Dhlakama e o mesma escapa ileso.
Depois de difíceis negociações, assinou um novo Acordo de Paz com o então Presidente da República, Armando Guebuza a 5 de Setembro de 2014 que viabilizou a sua participação nas eleições de 2014. Tendo-as perdido para o acual presidente Filipe Nyusi. E mais uma vez não reconheceu os resultados e percorreu o país mobilizando seus membros a também não faze-lo ameaçando tomar o poder a força.
Em virtude dessa situação reuniu-se com Filipe Nyusi por duas ocasiões em Fevereiro de 2015 para tentar pôr termo à crise política. Mas sem efeito.
Como consequência, o líder da Renamo sofreu três atentados contra a sua vida. A primeira tentativa de assassinar Afonso Dhlakama aconteceu no início da noite de 12 de Setembro de 2015, quando uma caravana de automóveis em que seguia foi atacada na província de Manica, ao que tudo indica por homens das forças de defesa e segurança de Moçambique. Registaram-se cinco feridos, mas o líder da oposição saiu ileso. No dia 25 de Setembro de 2015, o líder da Renamo escapou ileso a um novo ataque em menos de duas semanas na província de Manica. E refugia-se nas matas.
Após negociações com o governo, aceita sair das matas no dia 8 de Outubro e dirige-se para cidade da Beira. Na manhã do seguinte, 9 de Outubro de 2015, a polícia cerca a sua residência na Beira e desarma seus seguranças. E a polícia chamou a operação como início do desarmamento coercivo dos Homens Armados da Renamo. Entretanto, dias depois Dhlakama consegue fugir da sua residência na Beira e refugia-se nas matas da serra da Gorongosa e retoma ataques militares extendendo para além do troço da EN1 entre rio Save e Muxúnguè e Nhamapaza- Caia e da EN7 entre Vanduzi e Rio Luenha.
Para pôr termo ao conflito, o Presidente da República Filipe Nyusi iniciou conversações com Dhlakama por via telefone que permitiu o estabelecimento de tréguas e o fim das hostilidades militares. Filipe Nyusi dirigiu-se por três vezes a Gorongosa para reunir-se com Afonso Dhlakama e duas foram com sucesso. Recentemente os dois líderes acordaram um Pacote Descentralização que foi depositado na Assembleia da República e aguarda a sua aprovação. E neste momento estavam a negociar a desmobilização e integração dos homens da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança. Dhlakama aguardava o fim das negociações para sair das matas. Afonso Dhlakama deixa viúva e oito filhos.