Vic Patel falava aos jornalistas, em Luanda, depois da assinatura da parceria entre as duas empresas, que tem, para já, uma vigência de dois anos e que não incide na compra de ações de qualquer operadora em Angola, nem mesmo para a quarta licença que o Governo angolano tem em concurso, já na fase final.
"A Vodafone não estará a prestar serviços móveis para Angola. O acordo é para apoiar a Movicel na caminhada da transformação, para se tornar o segundo maior operador [no país, atrás da Unitel]. A Vodafone não apresentou qualquer pedido de licença para operação em Angola", garantiu.
Segundo Patel, as principais áreas em que a Vodafone está focada passam pelo mercado de consumo entre os jovens e a agenda digital, pela tecnológica, qualidade do serviço, apoio às operações de negócio e pela do "roaming" global, pois a multinacional "está ativa em todo o mundo".
Por seu lado, o presidente do conselho de administração da Movicel, Aristides Safeca, sublinhou que o desejo da operadora angolana, atualmente com uma quota de mercado em torno dos 20% (a Unitel detém quase o restante, enquanto a Angola Telecom tem uma praticamente residual), em manter uma "parceria eterna" com a Vodafone.
"O acordo assinado tem uma vigência de dois anos, mas queremos uma parceria eterna. Mas o objetivo é melhorar serviços, qualidade, diversidade, modernidade e maior adesão de clientes. Aí teremos crescimento da quota de mercado. Estamos numa economia de mercado, há mais operadores. Não posso dizer [uma meta]. A quota crescerá e o mercado ditará", sublinhou Safeca.
Recusando falar em verbas - "não há injeção de capital e não se trata de compra de serviços, mas sim de uma parceria, que envolve sempre custos" -, Safeca considerou que os ganhos para a Movicel passam pelo conhecimento e "expertise" da Vodafone, para que a operadora angolana possa voltar a ser a maior em Angola.
"Entre os objetivos estratégicos estão a melhoria dos serviços, para melhorar a quota de mercado, ter os clientes mais satisfeitos e em maior número e, se o mercado abrir a quarta licença, a Movicel estará mais bem colocada para se defender e tentar atingir a liderança do mercado", sintetizou, indicando que o número de postos de trabalho poderá aumentar entre os 10% e os 30%, em função do desempenho futuro.
Safeca admitiu que a Movicel tem atualmente "falhas", sobretudo devido à ausência de um "call-center", mas garantiu que a evolução passa pelo pilar fundamental do tratamento personalizado dos clientes, algo que não foi possível conseguir no mercado angolano, devido à crise económica que o país atravessa desde 2014.
"A Movicel não está isenta do contexto geral do país. Há um difícil acesso a divisas e um complexo universo burocrático para as importações e os operadores de telecomunicações dependem dos serviços expatriados. Temos neste aspeto alguma deficiência na manutenção", comentou.
Na quinta-feira, num comunicado enviado à Bolsa de Londres, a Vodafone indicou que vai assegurar a consultoria estratégica à Movicel, no âmbito de um programa em África do grupo de telecomunicações britânico, oferecendo "suporte estratégico e operacional em diversas áreas, incluindo marketing de consumidor, tecnologia e operações de negócios" à operadora privada angolana, no âmbito do programa Vodafone Partner Markets.
Criado em 2020, este programa inclui 29 empresas em 43 países e abrange parcerias em questões como o 'roaming', o uso internacional do telemóvel, ou a revenda de serviços.
Pioneira nas telecomunicações móveis em Angola quando lançou o negócio em 1992, a Movicel, parcialmente detida pelo Estado, possui cerca de dois milhões de assinantes, sendo a segunda maior operadora móvel no país, com 20% da quota de mercado.
O Grupo Vodafone tem operações móveis em 25 países, parceiros com redes móveis em mais 43 e operações de banda larga fixa em 19 mercados, somando cerca de 700 milhões de clientes móveis e 21 milhões de clientes de banda larga fixa.