Numa nota enviada à agência Lusa, o tenente general Afonso Nzau, diretor-geral do Serviço de Inteligência Externa da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda - Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), criticou as declarações feitas segunda-feira pelo ministro da Defesa angolano, Salviano Sequeira, igualmente à Lusa, que disse que a situação no enclave é "tranquila".
"Tentando iludir a comunidade internacional, o ministro da Defesa angolano, Salviano Sequeira, disse que a situação está calma em Cabinda e que desconhece a existência de militares das FAA [Forças Armadas Angolanas] mortos em combate com as FAC. O ministro da Defesa angolano disse que o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Angola não o informou dos confrontos em Cabinda", afirmou.
"Perante a ignorância e desconhecimento da realidade militar em Cabinda manifestada pelo ministro da Defesa angolano, o Estado Maior da FLEC/FAC convida o ministro da Defesa angolano Salviano [Sequeira] a visitar uma das bases da FLEC/FAC em Cabinda e, no mesmo momento, assinar um acordo de princípio para por termo ao conflito em Cabinda", acrescentou Afonso Nzau.
A Lusa tem estado a tentar falar com Salviano Sequeira sobre esta posição, mas, até agora, não foi possível.
Na posição divulgada hoje, aquele movimento independentista afirma "lamentar" que Salviano Sequeira "não tenha acesso às informações que lhe permitiriam ter uma perceção realista da situação militar em Cabinda".
Segundo Afonso Nzau, a FLEC/FAC "lamenta" também que os oficiais das FAA e o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas de Angola "mintam" ao ministro da Defesa angolano, "apenas com o objetivo de manterem os seus negócios e tráficos privados em Cabinda".
A 15 deste mês, Salviano Sequeira disse à Lusa que a situação militar no enclave de Cabinda é "tranquila", indicando desconhecer a morte de quaisquer militares das FAA, reivindicadas pela FLEC/FAC.
"A situação e calma e serena. Estive fora [de Angola] e desconheço a existência de vítimas entre as FAA. Estive, entretanto, hoje com o CEMGFA [Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Angola] e não recebi qualquer informação nesse sentido", afirmou Salviano Sequeira.
Questionado então pela Lusa, face aos vários comunicados divulgados nas últimas semanas em que o movimento independentista reivindicou a morte de vários militares das FAA, Salviano Sequeira insistiu também na mesma resposta: "a situação está calma".
Desde janeiro que a FLEC/FAC, em sucessivos "comunicados de guerra", tem reivindicado a morte de soldados das FAA, cerca de uma dezena, entre eles três oficiais, segundo o movimento independentista, em emboscadas no interior de Cabinda, com o último a acontecer a 12 deste mês, numa ação na região de Necuto.
A 28 de fevereiro último, a FLEC/FAC anunciou a retoma, "de forma intensiva, da luta armada em Cabinda" e alertou que o enclave angolano é "um território em estado de guerra e que os estrangeiros "devem tomar as medidas de segurança adequadas".
Num "comunicado de guerra", enviado então à agência Lusa, a FLEC/FAC argumentou que "nunca quis a guerra e sempre abriu as portas à paz" e que "todas as oportunidades" para a construir foram "esmagadas no sangue por Angola e os seus presidentes Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço".
Na ocasião, o movimento independentista alertou a comunidade internacional e todos os seus expatriados que Cabinda é um território em estado de guerra e por isso todos devem tomar as medidas de segurança adequadas.
O Governo angolano, que nem sequer discute a possibilidade de Cabinda aceder à independência, tem insistido na ideia de que a situação no enclave é "tranquila".
A FLEC, através do seu "braço armado", as FAC, luta pela independência do território alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.
Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que alega manter uma "resistência armada" contra a administração de Luanda.