"Há relações excelentes entre os Estados, que só melhoraram ao longo dos últimos anos", disse por seu lado Marcelo no evento onde se falou de pandemia e recuperação económica, chamando a atenção para a boa relação pessoal entre ambos.
"Temos a mesma compreensão quanto à urgência na ultrapassagem da pandemia e temos a mesma compreensão quanto à urgência na recuperação económica e social", afirmou Marcelo, explicando que estamos diante de uma "ocasião única para dar saltos qualitativos" no cenário pós-pandémico. "Se pudermos dar os saltos qualitativos em conjunto, isso é formidável", acrescentou o Chefe de Estado, que apelidou João Lourenço de "meu presidente", por Angola ter assumido em setembro a liderança da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O debate entre os dois, por videoconferência, decorreu no final do 4.º Fórum EurAfrican, uma iniciativa do Conselho da Diáspora Portuguesa. O foco da conversa, mediada pela jornalista Cristina Esteves, foi contudo a covid-19. "Há uma questão prévia fundamental quando se fala de desenvolvimento económico e social e recuperação das economias. Boa parte do mundo está em pandemia", disse Marcelo. Apesar de estar mos a passar da "pandemia para a endemia", esta ainda está presente e deixa marcas, avisou: "A pandemia existe e condiciona o arranque económico e social, a capacidade de enfrentar os próximos anos."
Solidariedade "insuficiente"
Apesar de lembrar que a vacina "não resolve o problema como uma varinha mágica", o Presidente português lembrou que é "a solução possível para o controlo da pandemia". E considerou que o esforço internacional para a partilha de vacinas, seja através de mecanismos de cooperação bilaterais ou do mecanismo global COVAX, "ainda é insuficiente" e deve acelerar. Portugal já prometeu três milhões de doses, tendo já enviado pelo menos metade - a maioria para países parceiros da CPLP.
Do outro lado do debate, enquanto líder de um país que tem recebido as vacinas doadas, João Lourenço agradeceu publicamente a solidariedade internacional. Mas defendeu que é preciso fazer mais. "A solidariedade manifestada até aqui tem-se limitado apenas à doação de vacinas. É insuficiente. Outra forma de manifestação da solidariedade seria abrir a capacidade aos nossos países de adquirir, com os nossos recursos, as vacinas que necessitamos", disse, falando das "imensas dificuldades" em ter acesso ao mercado das vacinas.
O presidente do Fórum EurAfrican, Durão Barroso, é também o presidente da Aliança Global para as Vacinas, um dos eixos por detrás do mecanismo COVAX. No encerramento do fórum, o ex-primeiro-ministro português chamou também a atenção para a "desigualdade vergonhosa" que ainda existe no acesso às vacinas. No mundo desenvolvido, indicou, 70% dos cidadãos estão vacinados, enquanto em África esse número é de apenas 8% com uma dose, sendo que com o esquema completo são 5,2% .
Solução global
Ambos os presidentes lembraram que a pandemia só pode ser ultrapassada a nível global. "Uma vez que hoje vivemos num mundo globalizado, a pandemia é global e a solução para esta pandemia e outras que virão também deve ser global", indicou João Lourenço. "A economia mundial não vai retomar tão facilmente caso existam países que não consigam superar o problema desta pandemia. É preciso que nos preocupemos com uma solução global, que saiamos todos desta crise, porque caso contrário a recuperação da economia global será muito difícil", referiu.
Marcelo lembrou que "é preciso superar bem a pandemia", avisando que "não podemos ter recaídas" e destacando a importância de começar já a planear para a próxima que irá aparecer. Nesse sentido, indicou que já está a ser preparado um tratado global neste âmbito. "Temos que estar prontos para a próxima pandemia", defendeu Durão Barroso, alertando que a de covid-19 serviu de exemplo das consequências do eventual uso das doenças infecciosas como arma.
O antigo presidente da Comissão Europeia alegou, noutro eixo do seu discurso de encerramento, que África é crucial para os desafios globais, como a transição para uma economia verde e digital. E defendeu que na próxima cimeira União Europeia-África, prevista para fevereiro de 2022, as duas regiões devem dar "um salto em frente" e "selar uma nova parceria". Também o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos, Silva, falou da importância desta "parceria entre iguais" que tem vindo a ser desenhada, que vai além da ideia da ideia da ajuda ao desenvolvimento ou da ajuda humanitária.