Organização do congresso “Pensar Angola” denuncia intimidações e boicote da imprensa pública

Post by: 23 March, 2022

O empresário Francisco Viana, um dos mentores do congresso “Pensar Angola”, denunciou hoje intimidações sobre a organização e lamentou o boicote da comunicação social pública angolana à cobertura da iniciativa, admitindo formalizar queixa junto do regulador.

Francisco Viana e o ex-primeiro ministro angolano Marcolino Moco encontraram-se hoje em Luanda com Abel Chivukuvuku, presidente do projeto político PRA-JÁ Servir Angola (cujo processo de legalização foi chumbado pelo Tribunal Constitucional) e que integra atualmente a Frente Patriótica Unida, movimento que congrega também o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, e do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade, e que pretende disputar as eleições gerais prevista para agosto deste ano.

“Tal como o PRA-JÁ foi excluído, nós também começamos a ser excluídos”, afirmou o empresário que foi hoje recebido por Chivukuvuku para convidar o político a participar no congresso.

Francisco Viana admitiu fazer uma reclamação formal à ERCA (Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana) e criticou a manipulação da comunicação social angolana, lamentando a exclusão, pois são pagos com os impostos dos angolanos.

“Estamos a ser boicotados”, criticou, salientando que tentou sensibilizar os responsáveis dos principias órgãos públicos, sem resultados.

“Somos cidadãos de pleno direito, se esses direitos não forem cumpridos, vamos até às últimas consequências”, garantiu o também presidente da Confederação Empresarial de Angola (CEA), denunciando igualmente “intimidações”.

Segundo explicou, tem havido dificuldades, algumas pressões, telefonemas e contactos diretos com membros da organização pedindo que “não se metam nisso” e “não falem de política”.

“Mas o menino [cidadão angolano] já está grande, o menino está farto de falar nos cantos e o menino vai mesmo falar de política por que é o seu direito. Não façam isso, não venham com essas intimidações”, vincou, sem apontar quem estaria por detrás das pressões.

Francisco Viana frisou que não pretende hostilizar nenhum partido e que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) – de que é militante - será bem recebido no congresso, indicando que já foram endereçados convites ao presidente do partido e também Presidente de Angola, João Lourenço, que designou como “estimado amigo de longa data”.

“Não posso simultaneamente convidar o MPLA e estar dentro da minha casa a insultar o MPLA. O MPLA é muito bem-vindo, a UNITA muito bem-vinda, aqui não há bandidos, somos todos angolanos e devemos discutir estes assuntos no congresso sem tirar à partida conclusões”, disse o empresário, rejeitando “partidarizar o congresso”, mas admitindo que a cadeira do MPLA pode ficar vazia.

Estão previstos também encontros com o presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e do Bloco Democrático, presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – coligação Eleitoral (CASA-CE) e de outros partidos com assento parlamentar como o Partido da Renovação Social (PRS) e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

Francisco Viana salientou que “nasceu no MPLA”, que continua a considerar um grande partido angolano, mas acrescentou que “infelizmente” não é este o projeto que gostaria de ter visto.

“Não sou MPLA, nem UNITA, sou angolano”, insistiu, rejeitando o rotulo de oposição, e reiterando que o objetivo do congresso é “ver o que se pode fazer de bem, em conjunto”.

Por outro lado, considerou que começa a haver “sinais gravíssimos” de intolerância política, acrescentando que “a manipulação é grave”, e dizendo que há órgãos públicos que estão “a intoxicar o país”.

“Estamos muito perto de uma guerra, se houver um mínimo de influência política, como nos tribunais, anular congressos (de partidos), isto vai ficar a ferro e fogo, mas eu quero exatamente o contrário”, frisou o empresário.

O “Congresso da Nação. Pensar Angola”, realiza-se em 27 e 28 de maio, em Viana (arredores de Luanda).

Da comissão organizadora fazem parte o ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco, académicos e o músico Eduardo Paim, que defendem um “projeto de consenso” para o país.

A comissão organizadora aponta os “momentos de grande indefinição, instabilidade e grave crise económica e social” por que Angola está a passar após 46 anos de independência e diz que as eleições são também uma oportunidade para elevar as condições do país.

Contribuir para um projeto comum em prol de uma Angola mais inclusiva, solidária e democrática; para um melhor esclarecimento pré-eleitoral sobre as propostas das forças políticas concorrentes à governação para o mandato de 2022 a 2027; para a criação de um ambiente de paz e concórdia, pré e pós-eleitoral e para um processo eleitoral transparente, justo e tranquilo, são os objetivos do congresso.

A iniciativa pretende congregar representantes de comunidades angolanas, de todo o país e da diáspora, partidos políticos, ativistas, sociedade civil, instituições religiosas, especialistas, autoridades tradicionais, entre outros parceiros.

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