Marcolino Moco, que falava aos jornalistas após apresentar o congresso “Pensar Angola”, cuja comissão organizadora integra, ao líder do projeto político PRA-JÁ Servir Angola, Abel Chivukuvuku, defendeu conciliação, em vez de exclusão, e pediu fim aos conflitos.
“É demais, de 1975 até hoje, a caminho de 50 anos, num país de tantos recursos”, lamentou.
“Andamos aqui a assistir a pessoas que gastam dinheiro para dividir as pessoas (...) é triste. O problema é que as coisas estão de tal maneira extremadas que é difícil chamarmos a atenção para determinados comportamentos que são inaceitáveis”, criticou o político, dizendo que a exclusão “está à vista de todos” e manifesta-se na comunicação social, prisões arbitrárias ou obstaculização de partidos.
O ex-governante considerou que “o que se está a fazer é excluir as pessoas que também quem fazer política, o partido único acabou em 1992”, frisando que autossuspendeu a sua militância no MPLA.
Marcolino Moco considerou “inadmissível” o caso de Abel Chivukuvuku que viu a sua pretensão de legalizar o projeto político PRA-JÁ chumbada várias vezes pelo Tribunal Constitucional.
“Isso não é política, a política é um serviço, não pode ser sacanear os outros e excluir, ser sempre os mesmos a mandar. Não vamos achar essas coisas que se passam como normais, como questões jurídicas, mas como uma situação de desestabilização continua do país”, comentou.
Questionado sobre o alegado projeto de acórdão do Tribunal Constitucional que circulou esta semana nas redes sociais segundo o qual o XIII congresso da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), realizado em dezembro, seria novamente anulado, considerou que envolve mais problemas políticos do que jurídicos.
“Não é a primeira vez que isto acontece (…) O que se deve discutir é esta irresponsabilidade, este abuso do poder, este ostensivo desprezo pelo povo. Nós sabemos que lá no Palácio [Presidencial] têm bons juristas, mas não é o problema do acórdão que devia preocupar as pessoas, é a prática do Estado em que não se respeitam os poderes, substituem-se juízes, anulam-se congressos de partidos políticos”, apontou.
Para Marcolino Moco, o congresso “Pensar Angola” pretende ser uma alternativa, como método de discussão política, estando agora a ser apresentado às diferentes forças políticas e sociais do país.
“Esperamos ser também recebidos pelo presidente da UNITA, pelo presidente do MPLA [João Lourenço, também Presidente de Angola], pelas organizações religiosas e da sociedade civil para que todos em conjunto possam contribuir para apaziguar” as tensões, frisou.
“Parece que quando estamos no poder ficamos assustados, parece que vamos perder tudo se sairmos. Eu, que estou fora do Governo há tantos anos, estou tão bem, mesmo com dificuldades que me criam, ainda assim estou muito melhor do que quando estava no poder”, rematou, em tom jocoso.
Marcolino Moco foi primeiro-ministro de Angola de 2 de dezembro de 1992 a 3 de junho de 1996, quando foi afastado pelo então Presidente José Eduardo dos Santos. Foi também o primeiro secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de 1996 a 2000 e ex-secretário-geral do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975.
O “Congresso da Nação. Pensar Angola”, realiza-se em 27 e 28 de maio, em Viana (arredores de Luanda).
Da comissão organizadora fazem parte Marcolino Moco, académicos e o músico Eduardo Paim, que defendem um “projeto de consenso” para o país.
A comissão organizadora aponta os “momentos de grande indefinição, instabilidade e grave crise económica e social” por que Angola está a passar após 46 anos de independência e diz que as eleições são também uma oportunidade para elevar as condições do país.
Contribuir para um projeto comum em prol de uma Angola mais inclusiva, solidária e democrática; para um melhor esclarecimento, pré-eleitoral, sobre as propostas das forças políticas concorrentes à governação para o mandato de 2022 a 2027; e para a criação de um ambiente de paz e concórdia, pré e pós-eleitoral e para um processo eleitoral transparente, justo e tranquilo, são os objetivos do congresso.
A iniciativa pretende congregar representantes de comunidades angolanas, de todo o país e da diáspora, partidos políticos, ativistas, sociedade civil, instituições religiosas, especialistas, autoridades tradicionais, entre outros parceiros.