A informação foi confirmada hoje à Lusa pelo presidente do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, promotor da manifestação de sábado, que segundo José Mateus Zecamutchima tinha sido comunicada às autoridades angolanas a 15 de janeiro.
"Não esperávamos esta reação brutal sobre o nosso povo. A manifestação foi completamente violentada, detiveram ao todo 101 pessoas e 19 ficaram feridas, após a intervenção da polícia. Um jovem foi ainda baleado e acabou por morrer em casa, no Cafunfo", explicou o presidente daquele movimento.
De acordo com José Mateus Zecamutchima, após a libertação, esta manhã, de grande parte dos manifestantes, seis ainda permanecem detidos no município do Cuango e 24 em Capenda Camulemba.
"Muitos refugiaram-se nas matas porque a polícia está a fazer rusgas às casas dos elementos do nosso movimento. Mas nós não estamos a fazer nada que não esteja dentro da legalidade", sublinhou, recordando que o protesto surge depois de uma carta enviada pelo Protetorado ao Presidente angolano, João Lourenço, a pedir diálogo para "restabelecer a autonomia das Lundas como um direito natural".
Aquele movimento reivindica a autonomia de uma vasta região no leste de Angola e anunciou em 2015 o reforço da "mobilização e consciencialização" da população para o tema, depois de a Assembleia Nacional ter emitido um parecer desfavorável à pretensão.
A posição constava então do comunicado final sobre a reunião metodológica dos secretariados regionais daquele movimento, que teve lugar em Lucapa, na Lunda Norte, entre 09 e 11 de abril, durante a qual foi reforçada, pelos presentes, a pretensão "do direito à autonomia da Nação Lunda Tchokwe".
A Assembleia Nacional de Angola, através da Comissão de Relações Exteriores, Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas no Estrangeiro, deu parecer desfavorável à revindicação de autonomia do denominado Reino Lunda, no interior do país, em reunião de 30 de março de 2015.
O Reino Lunda abrange um vasto território no interior de Angola, do norte a sul, envolvendo as províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e Cuando Cubango.
Na área norte deste território (Lundas), está concentrada a produção angolana de diamantes, a segunda principal fonte de receitas em Angola, depois do petróleo.
Os promotores desta reivindicação baseiam-se num acordo celebrado entre os representantes de Portugal e da Bélgica, antigas potências coloniais na região, antes da Conferência de Berlim (1884-1885), que delimitou as fronteiras das colónias africanas.
Já a Assembleia Nacional recordou que o referido acordo "não respeitou a história, as relações étnicas e os laços de consanguinidade existentes entre os seus povos". Contudo, para "prevenir potenciais conflitos armados", devido a disputas territoriais, a Carta da Organização da Unidade Africana e da União Africana estabelecem a "intangibilidade das fronteiras herdadas das potências coloniais, como norma imperativa".