Círia de Castro Cassoma, administradora de Marketing, Comercial e Relações Institucionais da Rádio Nacional de Angola (RNA), indicou à Lusa que a percentagem pode ter sido maior, uma vez que esses dados foram compilados às primeiras horas da manhã.
"Até às primeiras horas de hoje tinha a garantia de que 80% dos órgãos de comunicação social tinham aderido à campanha 'Não À Violência Contra A Mulher'", sublinhou Círia Cassoma, salientando que o objetivo da RNA foi o de chamar a atenção para um fenómeno que, segundo dados oficiais de 2018, provocou a morte de 30 angolanas entre os quase 7.000 casos denunciados.
"Nós, RNA, não estamos alheios aos fenómenos sociais, porque fazemos parte desta mesma sociedade e que a sentimos de alguma maneira adoentada com este fenómeno. Sabemos que a nossa Constituição garante o direito à vida a todos os cidadãos angolanos. Mas sabemos também que, em Angola, os direitos das mulheres são os mais violados e é contra isso que estamos", afirmou.
Salientando ver o fenómeno "com muita preocupação", Círia Cassoma lembrou a máxima "na briga, na confusão, entre marido e mulher ninguém mete a colher' para frisar que essa ideia está "muito enraizada" na sociedade angolana.
"Essa ideia é tão profunda, tão enraizada, que, na maior parte dos casos em que as pessoas percebem que há efetivamente potencial de crime, ou criminal, deixam-se estar. E o que acontece é que é quase sempre fatal", sublinhou.
Na 'régie' da RNA, cerca de três dezenas de profissionais e administrativos, trajados com 't-shirts' brancas com o nome da campanha, observaram um minuto de silêncio, com a emissão silenciada por idêntico período, enquanto um televisor, sintonizada na Televisão Pública de Angola (TPA), mostrava, à mesma hora, uma fotografia da campanha.
Pouco depois, os funcionários da RNA saíram das instalações da rádio e, nas ruas adjacentes, começaram a distribuir flores aos automobilistas, sobretudo aos homens, como mais uma forma de chamar a atenção para a violência doméstica em Angola.
A 25 deste mês, ao anunciar a campanha, a direção da RNA salientou a ideia de se pretender chamar a atenção para os índices de violência contra a mulher a nível mundial "que não param de crescer", com Angola, argumentou, "a fazer parte dessa triste realidade".
"Os direitos das mulheres são os direitos humanos mais violados. Todos os dias assistimos a casos de violência contra a mulher que, não poucas vezes, levam ao luto, remetendo centenas de crianças à orfandade", argumentou a RNA, que defendeu a necessidade de um "posicionamento sério" dos órgãos de comunicação social.
A 28 de novembro de 2018, o Governo angolano indicou que os dados referentes a 2017 apontaram para 6.097 denúncias de casos de violência doméstica nos Centros de Aconselhamento espalhados pelo país, mais do que as 5.707 feitas em 2016.