"Entendemos, primeiro, que aquilo foi um crime contra a humanidade, um genocídio contra o povo lunda e, aliás, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975] é um partido que nunca soube dialogar, nunca soube negociar e o caso das Lundas não é exceção", afirmou hoje o ativista Geraldo Dala, em declarações à Lusa.
Para o ativista, membro da denominada Sociedade Civil Contestatária, o "MPLA aproveitou-se" dos incidentes da região de Cafunfo, província da Lunda Norte, leste angolano, "para espalhar o terror e instaurar o medo naquela população no sentido de que não podem reivindicar pelos seus direitos".
Segundo a polícia angolana, cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende a autonomia daquela região rica em recursos minerais, tentaram invadir, no sábado, uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas.
A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição e sociedade civil local que falam em mais de uma dezena de mortos.
Geraldo Dala, que falava hoje durante uma conferência de imprensa de anúncio de uma manifestação, agendada para quinta-feira, em Luanda, "contra os 45 anos de governação do MPLA", defendeu a "autonomia política e administrativa como solução para o povo lunda".
"Não significa, necessariamente, desmembrar-se do território angolano, mas essa seria (autonomia política e administrativa) uma das vias para resolução dessa situação e também para o caso de Cabinda", frisou.
Por seu lado, o ativista Salomão Mpanzu também "repudiou a ação policial" contra os manifestantes em Cafunfo, afirmando que a Constituição angolana "proíbe a pena de morte e não permite, em nenhum momento, que algum cidadão tire a vida de outrem".
De acordo com o ativista, que falava à margem da conferência de imprensa, os acontecimentos de Cafunfo traduzem numa "agressão à Constituição angolana e é um ato que demonstra que ainda não vivemos num país com unidade nacional".
"Num país onde devemos exprimir as nossas ideias, ainda estamos a viver aqui princípios que demonstram que o socialismo comunista do MPLA ainda não terminou, porque aquele que pensar diferente em Angola é visto como animal e inimigo da paz", referiu.
Salomão Mpanzu disse igualmente que a manifestação agendada para esta quinta-feira, 04 de fevereiro, feriado nacional em Angola, "vai reservar também um momento para homenagear os irmãos mortos na Lunda Norte".
"Por isso é que amanhã [quinta-feira] vamos vestir todos de preto em homenagem àqueles que foram mortos em nome da liberdade e da justiça social. Condenamos o ato e pedimos ao Presidente da República, João Lourenço, que se pronuncie quanto a isso", concluiu.