Bispo católico critica "grupo de iluminados" que não consegue resolver problemas do país

Um bispo católico angolano Maurício Camuto criticou hoje que um grupo "que pensa ser iluminado" e quer levar Angola avante "como se tivesse uma varinha mágica", não consiga resolver os problemas do país, defendendo maior participação cidadã.

"Há essa necessidade de implementar a participação de todos os cidadãos, que não haja só um grupo que pensa ser iluminado para levar o país avante, estamos a ver onde é que chegámos por causa disso", afirmou hoje o bispo da diocese de Caxito, Maurício Camuto, em conferência de imprensa.

Aludindo às autoridades que dirigem o país, o bispo católico disse que este "pequeno grupo [de governantes] pensa ter todas as soluções, como se tivesse uma varinha mágica para resolver tudo".

"E estamos a ver que não conseguem resolver", realçou o também secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), tendo defendido mais espaço para os cidadãos participarem na vida do país.

"Que todos possam participar e dar o seu contributo político, social, programático para que ajudemos o país a sair da situação em que se encontra", salientou.

Falando na conferência de imprensa de lançamento da sétima edição da Semana Social, que decorre em Luanda entre 19 e 21 de julho, numa parceria da CEAST com o Mosaiko -- Instituto para a Cidadania, o bispo considerou ser "urgente" o processo autárquico.

"Então, é importante para isso que instauremos as autarquias para soluções locais e não esperar por decisões centrais, o que atrasa o nosso país e lança-nos na miséria em que nos encontramos", apontou.

Para o católico angolano "é urgente e necessário a implementação do processo autárquico que pode nos ajudar a sair do marasmo em que nos encontramos".

Maurício Camuto comentou também os argumentos sobre falta de condições nos municípios para a implementação das autarquias, considerando que se está a "colocar a charrua em frente dos bois".

"Quando dizemos que há localidades que não têm desenvolvimento suficiente para realização das autarquias estamos a colocar a charrua em frente dos bois, este argumento não colhe", observou.

Manifestou-se igualmente solidário com as vozes da sociedade civil e de setores políticos que defendem a materialização das eleições autárquicas no país, referindo que a esperança das autarquias foi apresentada pelo Presidente da República, João Lourenço.

Com a subida do atual Presidente da República, João Lourenço, ao poder, assinalou o bispo, "foi dada esta esperança sobre a realização das autarquias" mas "já lá vão tantos anos e até agora as autarquias não se concretizem", criticou.

"Há muitas questões, que são normais, há interrogações sobre alegado medo ou risco de o partido no poder perder posições, pode ser isso, mas também se fala em legislação não concluída", frisou.

O bispo católico defendeu ainda a necessidade de "pressionar" os legisladores, os deputados, de modo que estes possam concluir o pacote legislativo sobre as autarquias.

A lei sobre a institucionalização das autarquias em Angola é o único diploma do pacote legislativo sobre o poder local que falta ser aprovado pelo parlamento angolano.

As autarquias serão um dos temas abordado nesta "Semana Social", espaço de debates sobre a vida socioeconómica do país. Este ano o encontro decorre sob o lema "Participação Local, Mudança Global".

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