É a opinião de ativistas e membros da sociedade civil, que olharam para as contas da recente compra do Estado angolano por ajuste direto e dizem que o preço está altamente inflacionado.
Cada autocarro deveria ter custado entre 150 e 250 mil euros, segundo dados coletados pelo ativista Rafael Marques que já foram enviados, por carta, ao Presidente da República, João Lourenço.
O jornalista Graça Campos diz que é um escândalo, porque nota sinais de sobrefaturação e corrupção.
“Isso foi publicado em Diário da República. E este documento oficial é uma prova deste ato de roubalheira, de desonestidade. Não se trata apenas de indícios, estamos mesmo perante provas. Provas que não são contestadas”, afirma Graça Campos em declarações à DW.
O que diz o Governo
Ao todo, o despacho presidencial de 17 de maio autorizou uma despesa de 323,5 milhões de euros para comprar os 600 autocarros.
As viaturas foram compradas a um consórcio que integra uma empresa no Dubai e outra de um grupo angolano. O objetivo seria reforçar a rede de transportes urbanos.
Face à polémica em torno do negócio, o Ministério dos Transportes angolano explicou, entretanto, o que se passou: As despesas terão também servido para adquirir equipamento de manutenção preventiva e assistência técnica aos veículos. Está ainda prevista a construção de uma fábrica de montagem de autocarros para exportação, na Zona Franca de Desenvolvimento Integrado da Barra do Dande, província do Bengo.
“Um escândalo que nos envergonha a todos”
Mas o jornalista Graça Campos insiste que as explicações do Ministério dos Transportes não eliminam as suspeitas de corrupção em torno do contrato.
“Muito pelo contrário, fortalece-as. Todas estas mais-valias, se fossem verdadeiras, estariam contempladas no contrato. E o contrato, pelo menos aquilo que é público, não fala numa fábrica de montagem no Dande.”
Por isso, para o jornalista, é altamente provável estarmos “em presença de um escândalo avultado de corrupção, que nos envergonha a todos”.
Diante deste suposto escândalo de corrupção, o ideal seria a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Tribunal de Contas aferirem a legalidade do contrato, comenta o ativista Inocêncio de Brito.
Mas ele diz ter dúvidas que a PGR possa atuar, “uma vez que é uma ordem” do Presidente da República. “Não me recordo, em nenhum momento, de a PGR agir como tal. Portanto, não espero que isso aconteça”, remata.