Angola avança para tentar controlar a diamantífera De Beers

Post by: 24 October, 2025

O diretor executivo da diamantífera estatal angolana, Endiama, disse hoje que apresentou uma "proposta concreta e bem definida" para comprar a participação da Anglo American de 85% na De Beers, enfrentando a concorrência de, entre outros, o Botsuana.

Em entrevista à agência de informação financeira Bloomberg, José Manuel Ganga Júnior disse que, depois da proposta, seguem-se "ações subsequentes" que não enumerou, argumentando com a confidencialidade do processo de compra da participação de 85% da Anglo American na diamantífera De Beers, uma das maiores e mais conhecidas do mundo.

A oferta feita pela Endiama revela uma aprofundamento das ambições de Angola no setor dos diamantes, escreve a Bloomberg, lembrando que o Ministério das Minas tinha anunciado em setembro que pretendia adquirir uma participação minoritária "estratégica" na De Beers, com o objetivo de promover uma parceria com o Botsuana.

A Anglo, cotada na bolsa de Londres, pretende alienar a sua participação de 85% na icónica mineradora de diamantes como parte de um processo de reestruturação que começou há 17 meses, com grupos de investidores liderados pelos ex-executivos da De Beers Gareth Penny e Bruce Cleaver a entrarem na disputa quando o processo formal de venda teve início em junho.

A Endiama espera que Angola "chegue a um entendimento" com o Botsuana, disse Ganga Júnior, recusando-se a dizer se as discussões já tiveram lugar, acrescenta a Bloomberg, salientando que apesar de Angola estar a licitar a participação total da Anglo na De Beers, o resultado final é incerto.

A De Beers é "uma empresa tão grande que acreditamos que há espaço para vários parceiros", disse o líder da Endiama, mas o Botsuana, como atual acionista da De Beers, tem o direito de igualar quaisquer ofertas de partes externas. A empresa angolana está a procurar explorar a tecnologia de mineração proprietária da De Beers, juntamente com o seu sistema de marketing, disse Ganga Júnior.

"Estes são fatores que, se fizermos parte da De Beers, nos permitirão automaticamente dar passos maiores em frente", argumentou. O Botsuana — onde a De Beers extrai a maior parte das suas gemas — também pretende aumentar a sua participação de 15% para uma participação maioritária, com o Presidente, Duma Boko, a considerar que este esforço de aprofundamento do envolvimento na empresa é "uma questão de soberania económica".

Angola é o maior produtor de diamantes de África em valor, com a produção do ano passado a ultrapassar a produção do Botsuana pela primeira vez em duas décadas, de acordo com o último relatório do Processo de Kimberly, um programa de certificação internacional.

Numa análise divulgada em setembro, a consultora Oxford Economics previa que Angola mantivesse a liderança africana no setor da produção de diamantes este ano, à frente do Botsuana.

"A produção de diamantes de Angola deverá atingir 16,1 milhões de quilates este ano, um valor superior ao valor previsto para o Botsuana, de 15,1 milhões de quilates", uma diferença que poderá ser ainda maior se várias minas de diamantes permanecerem encerradas por um período prolongado no Botsuana.

Na nota, os analistas alertavam, no entanto, que o aumento da produção não significa um ganho significativo, primeiro, porque já no ano passado o valor das vendas de diamantes em Angola superou o do Botsuana (1,41 mil milhões de dólares, cerca de 1,2 mil milhões de euros, em Angola, contra 1,36 mil milhões de dólares, ou 1,16 mil milhões de euros, no Botsuana), e depois porque as mudanças estruturais no setor, com o aumento dos diamantes produzidos em laboratório, fazem com que "o momento para Angola se tornar uma potência diamantífera não poderia ser pior".

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Last modified on Friday, 24 October 2025 17:36
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