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JES resiste a pressões para retirada

Post by: 30 Outubro, 2017

As reuniões do Bureau Político (20.Out) e Comité Central (23.Out) do MPLA, antecedidas de “lobbying” público, e em círculos restritos do regime, assinalado a correntes mais próximas do novo PR, João Lourenço (AM Intelligence 1116), no sentido de José Eduardo dos Santos (JES) abandonar a breve prazo a liderança do partido, redundaram num “tabu”, da parte de JES.

Depois de JES e figuras do seu círculo mais próximo terem sinalizado a intenção do ex-PR se retirar - convocando, após anúncio público, um congresso extraordinário, eventualmente Dez., para eleger um novo presidente - as recentes reuniões partidárias caracterizaram-se por falta de discussão aberta sobre o tema, e em concreto, sobre a convocação de um Congresso, embora este tenha dominado os contactos a nível privado.

Na sua intervenção de abertura da reunião do CC, JES invocou trabalhos em curso a nível partidário, directamente relacionados com a liderança, nomeadamente:

- Reforço da organização partidária;

- Alcance dos objectivos do Programa do MPLA;

- Alcance dos objectivos da Moção de Estratégia do presidente do partido (10 pontos, aprovados no último Congresso);

- Necessidade de contributo do partido para a agenda de governação.

Durante os trabalhos, foi rejeitada pelo SG do partido, António Paulo Kassoma (APK), uma tentativa, da parte do membro do CC Alberto Neto, que tem vindo a assumir-se publicamente como crítico da família do ex-PR, de clarificação em relação à situação de JES na presidência do partido. APK respondeu afirmando que militantes devem deixar unicamente para JES informações sobre o “timing” da saída da liderança. A questão não foi retomada por outros presentes.

A falta de abordagens mais incisivas em relação à sucessão partidária, apesar de um aumento assinalável das críticas públicas em relação a JES - e, em paralelo, um aumento da popularidade e apoio a JL - indicia que no clima interno ainda predomina o receio de JES e da família do ex-PR, entre os menos próximos destes.

Em círculos privados, foram assinalados a membros da família presidencial (Welwitchea “Tchizé” dos Santos, Bento dos Santos “Kangamba”), desabafos em relação a actos de “perseguição”de apoiantes de JES em geral, a nível do partido e ao nível do Estado.

No final, o CC aprovou uma “Moção de Apoio ao Presidente do MPLA”, por unanimidade, que oferece apoio à intervenção inicial de JES, apontada como “documento orientador” do partido, além de tecer elogios ao papel partidário de JES. A aprovação compromete o CC com os “timings” de conclusão dos referidos trabalhos em curso, centrados no líder.

 “Tchizé” dos Santos chamou atenção, em círculos restritos, a Djmila de Almeida Prata (filha de Roberto de Almeida, ex-Vice presidente do MPLA) para que, na qualidade de directora do Departamento de Informação e Programada (DIP) de Luanda, divulgasse os documentos saídos da reunião.

2- De acordo com fontes locais, depois de ter cedido em larga medida a JES e seus próximos na formação do Governo (o processo de composição esteve reservado ao secretariado do BP, dominado por figuras próximas de JES), JL usou as suas primeiras decisões para afirmação/ demarcação, mas terá incorrido em excesso de voluntarismo e/ou inabilidade, procurando aproveitar a “onda” de apoio a saída de JES da liderança do partido.Fernando da Piedade dos Santos “Nandó” e Manuel Vicente, ambos membros do BP, têm vindo a aproximar-se de JL.

Na perspectiva de apoiantes de uma “aliança anti-JES”, a sua saída imediata da liderança do partido é uma condição para a afirmação de JL e para a eficiência do Governo, num momento de dificuldades económicas e financeiras (AM Special Report 32).

Em meios políticos locais, é reconhecida a JES superior habilidade/ sensibilidade política. A capacidade de manobra/ ludíbrio político de JES não tem paralelo em JL, que mantém uma postura mais frontal. No caso da sucessão partidária, a resistência de JES a pressões externas é atribuída a noção de que:

- Anunciar saída num contexto de pressão pública seria negativo para o seu estatuto e potencialmente lesivo para os interesses políticos e patrimoniais da sua família;

- É conveniente para os mesmos interesses aguardar pelo andamento de alguns dos processos desencadeados por JL, que põem em causa JES e os seus mais próximos (AM Special Report 35).

3- M H Vieira Dias “Kopelipa” exerce agora, no gabinete de JES no MPLA, funções que pela sua natureza continuam a relacioná-lo com os sectores da defesa e segurança. O MPLA, através dos seus principais órgãos de direcção, continua a ter capacidade para se pronunciar sobre nomeações, exonerações e outras alterações nos altos cargos das FA e do aparelho de segurança.

Uma proposta de passagem à reforma do Gen António José Maria, vulgo Zé Maria, não mereceu a aprovação do então ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança presidencial, “Kopelipa”, a quem competia despachar sobre assuntos militares de tal natureza.

No seu entendimento, uma alteração do vínculo do referido oficial às Forças Armadas (FA) implicaria a sua substituição como chefe do SISM (Serviço de Inteligência e Segurança Militar), perspectiva considerada inconveniente.

O nome de Zé Maria fazia parte de uma lista de que constavam outros nove generais cuja passagem à reforma o Ministério da Defesa apresentou para aprovação do chefe da Casa de Segurança.

Ao SISM (antiga Contra-Inteligência Militar), estão cometidas tarefas de vigilância e controlo da vida interna das FA, com o fim de prevenir manifestações de deslealdade ou de insubordinação. Apoia-se, para tal, em redes secretas de informadores instaladas nas unidades militares.

Zé Maria é geralmente identificado como um indefectível de JES, tendência à luz da qual aparecia habitualmente como animador/promotor de manifestações de culto da personalidade do antigo PR. Não goza de significativas simpatias ou de aceitação (AM 866) no corpo de oficiais das FA. AM

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