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Presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika renuncia ao cargo, o último dirigente árabe do século XX

Post by: 02 Abril, 2019

O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, renunciou ao cargo nesta terça-feira (2) daquele que foi último líder árabe da velha guarda ainda no poder.

Um dos motivos para a renúncia do mandatário de 82 anos são os inúmeros protestos contra o seu mandato e o pedido de renúncia do Chefe do Exército.

O mandatário havia anunciado na segunda-feira (1) que deixaria o poder antes do dia 28 de abril. Ele chegou a considerar uma reeleição, mas desistiu.

Eis os 12 marcos da vida de um homem inteiramente dedicada à política na Argélia e que foi fundamental para que o Exército tomasse o poder em 1962, após a sangrenta guerra da independência de França.

- Nascido em 1937 na cidade marroquina de Oudja, Bouteflika foi o Presidente que mais tempo esteve no poder na Argélia, com 20 anos de mandato e quatro eleições ganhas.

- Conhecido pela sua habilidade como influenciador político, juntou-se no início da guerra da independência de França ao "Exército das Fronteiras", dirigido por Houari Boumediene, que depois se tornaria Presidente.

- Em 1962, opôs-se aos acordos de Evian, entre os representantes de França e o Governo provisório argelino, que levaram ao cessar-fogo final, e fez lóbi em nome de Boumediene e do Presidente Ahmed Ben Bella para conseguir que o Exército assumisse o poder.

- Em 1963, com apenas 26 anos, foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo que exerceria até 1979, tornando-se o rosto da Argélia e um dos principais defensores da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e do Movimento dos Não-Alinhados.

- Em 1976, foi fundamental na decisão do Presidente Boumediene de reconhecer a República Árabe Democrática Sarauí (RASD), o que significou a rutura de relações com Marrocos e um conflito bilateral que ainda se mantém.

- Em 1983, foi acusado de corrupção e considerado culpado de ter desviado mais de 70 milhões de francos das embaixadas. Dois anos antes, tinha decidido fugir do país. Regressou à Argélia em 1987 sem devolver o dinheiro, que disse destinar-se a um novo Ministério dos Negócios Estrangeiros.

- Em 1989, foi eleito membro do comité central da Frente de Libertação Nacional (FLN), partido que governou a Argélia desde a independência, e, depois de rejeitar vários ministérios em plena guerra civil, regressou à Suíça.

- Em 1999, venceu as eleições presidenciais com 75% dos votos e iniciou um período de transição que terminou com uma trégua com os islamitas que pôs fim à chamada "década negra", uma época de terror que fez mais de 300.000 mortos.

- Em 2005, sofreu o primeiro problema de saúde grave: foi-lhe diagnosticada uma úlcera gástrica hemorrágica, e começaram as viagens constantes à Suíça e os rumores sobre o seu verdadeiro estado.

- Em 2013, as dúvidas agudizaram-se, depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou numa cadeira de rodas e lhe causou a perda da fala. Ainda assim, venceu as presidenciais de 2014 com 81% dos votos, apesar de a doença o ter impedido de fazer campanha.

- Em 2017, e no contexto de uma galopante crise económica e social, ordenou uma revisão da Constituição para poder candidatar-se a um quinto mandato. A sua candidatura, dois anos depois, desencadeou as maiores manifestações no país desde o início da guerra civil.

- Em março de 2019, após três semanas de gigantescos protestos nas ruas e duas semanas internado num hospital na Suíça, desistiu da reeleição para um quinto mandato, sem que se saiba quem lhe sucederá e qual é o seu verdadeiro estado de saúde.

Last modified on Terça, 02 Abril 2019 19:43
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