Em entrevistas publicadas na imprensa local na semana passada, a Miss Senegal 2020, Ndèye Fatima Dione, de 20 anos, disse ter sido drogada e violada num hotel durante uma festa para a qual o comité organizador a tinha convidado.
A jovem disse que ficou grávida e foi excluída das atividades do comité da Miss Senegal.
Atualmente, é mãe de um bebé de 5 meses cujo pai afirma não conhecer, segundo a imprensa.
No dia seguinte à divulgação, a presidente do comité organizador da Miss Senegal, Amina Badiane, disse numa conferência de imprensa que "uma violação envolve duas pessoas".
"Se for violado, é porque o pediu". Ela é maior de idade", afirmou.
Estas palavras provocaram fortes reações de condenação por parte das mulheres e das associações de mulheres.
"Já tinham sido apresentadas mais de 300 queixas quando saímos do tribunal, no início da tarde. Tínhamos lançado uma ideia de queixa coletiva nas redes sociais e apelámos àqueles que aderiram, para que preenchessem o formulário e se reunissem em tribunal para apresentar as queixas", disse Hourèye Thiam Preira, do coletivo de mulheres que se reuniram espontaneamente em tribunal para levar o caso ao procurador, citada pela agência France-Presse.
"É uma forma de encorajar os violadores a continuar e a colocar as raparigas em perigo", afirmou Preira.
Além de denunciarem a glorificação da violação, os queixosos exigem a retirada da licença do atual organizador do concurso nacional de beleza e pedem ao Estado que confie a sua organização a "pessoas mais respeitadoras dos direitos da mulher", segundo Preira.
No Senegal, foi promulgada, em janeiro de 2020, uma lei que reconhece a violação e a pedofilia como crimes. Os perpetradores de violação e pedofilia são julgados pela câmara criminal e enfrentam uma pena de prisão perpétua.