Acordo de cessar-fogo RDCongo/Ruanda saudado internacionalmente mas com reservas na região

Post by: 01 Agosto, 2024

O acordo de cessar-fogo alcançado terça-feira em Luanda entre RDCongo e Ruanda, sob mediação angolana, suscita poucas esperanças na região, após dois anos e meio de combates e anteriores compromissos desrespeitados, mas as reações internacionais são positivas.

Nas Nações Unidas, o porta-voz do secretário-geral, António Guterres, disse que a ONU espera que o cessar-fogo "crie as condições para um desanuviamento" entre a República Democrática do Congo (RDCongo) e o Ruanda.

"Esperamos que este acordo contribua para criar as condições para um desanuviamento das tensões entre a RDCongo e o Ruanda e para o regresso das pessoas deslocadas às suas casas", declarou Stéphane Dujarric à imprensa, congratulando-se com o acordo e apelando às duas partes para que "respeitem os seus compromissos para restaurar a paz e a segurança na RDCongo".

Em comunicado divulgado hoje em Kinshasa, a missão da ONU (Monusco) saudou igualmente o compromisso alcançado e manifesta igualmente a sua disponibilidade para apoiar o mecanismo de verificação ‘ad hoc’ mandatado para supervisionar o cumprimento do cessar-fogo, em conformidade com o seu mandato.

Bruno Lemarquis, Representante especial adjunto do secretário-geral da ONU na RDCongo e chefe interino da Monusco, exprimiu o apoio das Nações Unidas ao acordo, que poderá contribuir para desanuviar o conflito entre os dois países e permitir que as pessoas deslocadas regressem às suas casas em segurança e dignidade.

"As Nações Unidas gostariam de felicitar o Presidente angolano, Sua Excelência João Lourenço, pelos seus esforços no âmbito do processo de Luanda", afirmou Lemarquis, citado na nota.

O dirigente reiterou o compromisso permanente das Nações Unidas de apoiar os esforços para restaurar a paz, a segurança e a estabilidade na RDCongo e apelou a todas as partes envolvidas para que trabalhem de forma construtiva para pôr termo à violência e alcançar uma solução pacífica e duradoura para os conflitos na região.

Em Bruxelas, o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, manifestou também hoje a satisfação dos 27 pelo cessar-fogo e instou todas as partes a respeitarem-no “de forma rigorosa”.

"A UE acolhe com satisfação o cessar-fogo acordado ontem [terça-feira] em Luanda como resultado da reunião trilateral entre Angola, Ruanda e a RDCongo", declarou Borrell num comunicado.

Antes do acordo alcançado terça-feira em Luanda, pelo menos meia dúzia de cessar-fogos e tréguas foram anunciados, mas nunca foram respeitados por mais do que algumas semanas.

Em Goma, a capital do Kivu do Norte, atualmente cercada por rebeldes e unidades do exército ruandês, o anúncio não suscitou grande entusiasmo, segundo correspondentes de agências internacionais.

Nenhuma manifestação de alegria perturbou o trânsito habitual de motas e peões que se moviam como habitualmente sob um céu carregado de nuvens.

"Não vai levar a nada. O cessar-fogo beneficia o inimigo. Os rebeldes nunca respeitaram estas decisões da comunidade internacional", declarou Trésor Tonde Mabala, estudante na Universidade La Sapientia, em Goma.

Em 04 de julho, os EUA anunciaram uma trégua humanitária de duas semanas no leste da RDCongo para "permitir o regresso voluntário das pessoas deslocadas e proporcionar aos trabalhadores humanitários um acesso sem restrições às populações vulneráveis".

No entanto, o movimento rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, acusou as Forças Armadas da RDCongo de violarem o acordo e os combates recomeçaram apenas três dias depois de a Casa Branca ter anunciado o compromisso.

Mais de 1,6 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido aos combates do M23 e as recentes escaladas obrigaram outras dezenas de milhares a procurar refúgio em condições de sobrelotação.

Para além de uma crise humanitária, os combates do M23 provocaram sérias tensões entre a RDCongo e o Ruanda devido à alegada colaboração de Kigali com o grupo rebelde, uma alegação que as autoridades ruandesas sempre negaram, apesar da confirmação da ONU.

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