Numa ronda feita pela Lusa em Maputo foi possível observar eleitores a aguardar junto às assembleias de voto ainda antes do horário oficial de abertura de mesas, que se vão manter em funcionamento até às 18:00 locais em todo o país.
Com a capital a começar o dia debaixo de chuva, na Escola Secundária Josina Machel, a maior do centro de Maputo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, foi o primeiro a votar, cerca das 07:05 (06:05 em Lisboa), inserindo os três boletins de voto.
Algumas assembleias de voto registaram ligeiros atrasos, de poucos minutos, no arranque da votação.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) recenseou 17.163.686 eleitores para esta votação, incluindo 333.839 que vão votar em sete países africanos e dois europeus.
O Governo moçambicano concedeu tolerância de ponto aos trabalhadores dos setores público e privado em todo o país, no dia de hoje, para "permitir a sua participação" nas eleições gerais.
As eleições gerais de hoje incluem as sétimas presidenciais - às quais já não concorre o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, que atingiu o limite constitucional de dois mandatos - em simultâneo com as sétimas legislativas e quartas para assembleias e governadores provinciais.
Concorrem à Presidência da República Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceira força parlamentar), Daniel Chapo, com o apoio da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, e Ossufo Momade, com o apoio da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição).
A publicação dos resultados da eleição presidencial pela CNE, caso não haja segunda volta, demora até 15 dias, antes de seguirem para validação do Conselho Constitucional, que não tem prazos para proclamar os resultados oficiais após analisar eventuais recursos.
A votação inclui legislativas (250 deputados) e para assembleias provinciais e respetivos governadores de província, neste caso com 794 mandatos a distribuir. A CNE aprovou listas de 35 partidos políticos candidatas à Assembleia da República e 14 partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores às assembleias provinciais.
Candidato Venâncio Mondlane apela ao voto e denuncia "banditismo eleitoral"
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou hoje ao voto dos moçambicanos, apesar de, afirmou, estar montado a nível nacional um "esquema fraudulento", descrevendo um cenário de "banditismo eleitoral".
"Temos cadernos adulterados, temos muitos casos de delegados da candidatura do Podemos que estão a ser proibidos de se fazer à sala. Temos vários casos em que não se emitiram credenciais em número suficiente. É isto, está montado aqui um sistema mais do que perfeito para se operacionalizar uma fraude", afirmou, após ter votado em Maputo, na Escola Primária 25 de Setembro.
Ainda assim, Mondlane assegurou não ter "nenhum receio" em relação à base social de apoio. "Se votarmos em massa, mesmo que eles façam todos os truques que estão aqui a fazer, mesmo que eles façam todo este esquema fraudulento, babilónico, de desvirtuar a vontade do povo, se nós votarmos em massa nós temos a possibilidade de que a vontade popular não seja adulterada", sustentou, descrevendo um cenário de "banditismo eleitoral".
Ainda assim, expressou esperança em que seja feita história nestas eleições: "Hoje é um dia fulcral para o nosso futuro. Eu penso que é um momento histórico. (...) A história está ansiosa, anunciando uma transição geracional, uma alternância democrática".
Em pouco menos de um ano, o antigo militante da terceira força no parlamento (Movimento Democrático de Moçambique, MDM) candidatou-se ao Município de Maputo pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), foi impedido de concorrer à liderança do maior partido da oposição e lançou uma candidatura independente ao mais alto cargo da nação, procurando destronar a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência do país, em 1975.