Trystan Reese e o seu parceiro Biff Chaplow já eram pais experientes quando, no ano passado, decidiram que estava na hora de adicionar mais um membro à família.
Há uns anos, adoptaram os sobrinhos de Chaplow quando a sua irmã deixou de conseguir tomar conta deles. As duas crianças foram criadas como suas em Los Angeles, onde trabalhavam em organizações sem fins lucrativos, mudando-se depois para Portland, em Oregon, onde moram hoje.
A adopção foi um processo difícil e aprender a cuidar de dois bebés levou a um conjunto de novos desafios e estilos de vida diferentes, tal como acontece com todos os novos pais, diz Reese.
“Quando as coisas acalmaram, apercebi-me do quanto gostava daquelas crianças”, diz Reese ao The Washington Post. “E quanto espaço ainda havia para a nossa família crescer”.
Depois de meses do casal tentar engravidar Reese, um homem transgénero, finalmente conseguiu. E há umas semanas deu à luz um menino saudável.
Reese e Chaplow documentaram a gravidez em blogues e nas redes sociais, esperando desmistificar as implicações de um homem transgénero engravidar e promover uma sensação de normalidade a pessoas que estão na mesma situação.
A história da sua família, e a vontade de a tornar pública, demonstra uma mudança na forma da sociedade ver a gravidez e a educação de crianças por parte de homens transgénero como um estigma social. Este estigma já começou a desaparecer e grupos de defesa dos direitos LGBT têm lutado por mais aceitação.
Talvez o maior de desejo do casal seja clarificar algo: eles não são os primeiros. Longe disso.
“As pessoas acham que isto foi uma experiência que decidimos fazer”, diz Reese, acrescentando que testemunhou amigos passarem pelo mesmo processo depois da transição deles. “Isto já foi feito. É algo que tem sido feito de forma bastante segura e saudável. Não queremos ser classificados como pioneiros.”
Nos últimos anos, muitos homens transgénero têm tido gravidezes bem-sucedidas e alguns muito após começarem a terapia de substituição hormonal. O The Village Voice publicou um artigo sobre Matt Rice, um homem transgénero que teve um filho recorrendo ao método de inseminação artificial, em 1999. Recentemente têm sido documentadas outras gravidezes de homens transgénero.
Reese, agora com 34 anos, nasceu num corpo de mulher e assim ficou até aos seus últimos anos de adolescência. Aos 20 anos, depois de aconselhamento, começou a tomar hormonas e a identificar-se como homem. Cerca de oito anos depois conheceu Chaplow e, como recordam, foi “amor à primeira vista”. Ganharam a custódia dos sobrinhos de Chaplow em 2011.
Quando decidiram ter um filho biológico, procuraram aconselhamento médico. Foram informados de que, como na sua transição Reese só se tinha submetido a terapia hormonal, o processo para se preparar para conceber uma criança não seria muito diferente do de uma mulher que usasse a pílula ou outros métodos contraceptivos.
Cinco meses depois de parar de tomar testosterona, Reese engravidou. O casal optou por não divulgar o método de concepção escolhido.
“Quando descobri, estava tão excitado quanto com medo”, explicou. “Estava tão feliz por passar por este processo com a pessoa que amo, mas ao mesmo tempo aterrorizado. Ia conseguir fazê-lo? A gravidez é difícil, o parto é difícil e esperava ser capaz de lidar com tudo.”
Aos seis meses de gravidez, Reese respondeu a muitas curiosidades e clarificou algumas ideias erradas que as pessoas tinham em relação à sua gravidez num vídeo que publicou nas redes sociais. Sentado no sofá com uma barriga do tamanho de um melão escondida pela roupa, explicou como a testosterona que tomava lhe fez crescer barba e fez com que a sua voz ficasse mais grave, mas que o deixou com um útero e ovários funcionais.
“Nunca desejei ter nascido rapaz ou ter um corpo exactamente igual ao do meu parceiro, que nasceu rapaz”, explica Reese. “Sinto-me bem com ser transgénero. Sinceramente, acho que é maravilhoso. E nunca quis que o meu corpo fosse diferente do que é.”
“Se conseguirem perceber essa parte, então começa a fazer-vos mais sentido e a não parecer tão estranho eu querer conceber um bebé, pois não quero que o meu corpo não seja um corpo transgénero. Sinto-me bem ser um homem com um útero e que tem a possibilidade de ter um filho.”
Reese contou que a sua gravidez teve todos os altos e baixos característicos de uma gravidez: os pés inchados, a fatiga, as mudanças de humor e toda a excitação de estar prestes a trazer uma nova criança ao mundo.
A 14 de Julho, ao fim de 30 horas de trabalho de parto, nasceu Leo, um rapaz saudável com um pouco mais de 4kg.
Reese contou ao Washington Post que nunca imaginaria que a sua vida desse uma volta tão grande quando começou a terapia hormonal há 14 anos.
“Achava que nunca ia encontrar alguém por quem me apaixonasse e que quisesse ficar comigo. Nunca me imaginei a adoptar duas crianças tão brilhantes, engraçadas e encantadoras. O facto de que isto me aconteceu apanhou-me completamente de surpresa. Não é esta a história de transgénero que nos contam, que ter uma família é possível.”
PÚBLICO/The Washington Post