O histórico militante do MPLA Ambrósio Lukoki acredita que se José Eduardo dos Santos fosse o cabeça-de-lista do partido nas eleições de Agosto, o MPLA seria derrotado e considera que Angola vive um período de profunda mudança.
Em conversa com ouvintes e internautas durante o programa Angola Fala Só, da VOA, nesta sexta-feira, 24, o antigo ministro e embaixador foi peremptório ao classificar José Eduardo dos Santos de “camaleão” que a cada momento muda de opinião segundo a sua conveniência e que, por isso, não sabe se vai cumprir a promessa de deixar a política activa em 2018.
“Este é um problema que o MPLA terá de resolver”, disse Lukaki, para quem Santos tem de deixar a presidência do partido no poder.
Em resposta às perguntas, aquele professor universitário disse que o MPLA não tem duas alas, como disse um ouvinte, “mas é um partido dividido, em pedaços” e unir essa força política constitui “um dos principais desafios de João Lourenço”.
"José Eduardo deixou miséria e pobreza"
Aquele antigo membro do Comité Central, órgão que integrou por mais de 40 anos, afirmou não ter dúvidas que se “o cabeça-de-lista do MPLA fosse o José Eduardo dos Santos o partido perderia as eleições” e elogiou a campanha de João Lourenço de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.
Por este motivo, e em resposta a um internauta se o Presidente da República pode demitir o presidente do Fundo Soberano, José Filomeno dos Santos, o antigo embaixador disse que Lourenço “tem todos os poderes que lhe confere a Constituição para afastar aqueles que não estejam a responder bem e que não trabalhem de acordo com a sua linha de orientação”.
Lukoki não poupa críticas a José Eduardo dos Santos a quem acusou de dirigir o partido e o país à sua maneira e a seu favor, sem se preocupar com o povo.
“O que ele deixou depois de quase 40 anos? Miséria e pobreza apenas, enquanto a riqueza de Angola”, acusou aquele histórico do partido, que também respondeu a um internauta que quis saber “por que só agora ele vem acusar José Eduardo dos Santos”.
Críticas e abandono do Comité Central
Ambrósio Lukoki pediu que olhe para a sua história no MPLA e vai descobrir que sempre disse o que tinha a dizer.
“Tenho todos os documentos e estou disposto a mostrá-los, que revelam o que tenho escrito e enviado ao próprio José Eduardo e aos órgãos do partido”, lembrou Lukoki, explicando ter pedido para sair do Comité Central do MPLA no último congresso, em 2016.
“Disse que não ficava no Comité Central debaixo da liderança do José Eduardo, um comando falso, em que tudo era à medida da camisola dele, pronta a vestir”, revelou o antigo embaixador que no mesmo ano deixou o cargo na Tanzânia.
"E nunca responderam às minhas cartas", sublinhou.
Entretanto, lembrou que não deixou o partido, “como estão dizendo por aí”, adiantou em referência às declarações de Tchizé dos Santos, sem citar o nome dela, “mas somente o Comité Central pelas razões que todos conhecem”.
Ambrósio Lukoki garantiu que “Angola está em mudanças” e que “em três meses João Lourenço deu-nos a esperança que não tínhamos”, ao contrário de José Eduardo dos Santos, segundo ele.
Na conversa, o antigo embaixador disse que as mudanças em curso não se limitam às exonerações, mas que “as políticas que virão vão mostrar um Governo a trabalhar, finalmente, pelo povo”, apelou os jovens a se engajarem no partido e negou que exista qualquer conflito inter-geracional. VOA