João Lourenço, que concedeu hoje a sua primeira entrevista coletiva a órgãos de comunicação social angolanos, argumentou que a expressão coabitação é apenas utilizada quando se está em presença de líderes de partidos diferentes, o que não é o caso.
"No caso de Angola, não parece que essa expressão seja correta, na medida em que quer o líder do partido quer, em princípio, o futuro Presidente, caso consigamos conquistar os corações dos angolanos, serão ambos do mesmo partido", referiu.
No poder desde 1979, José Eduardo dos Santos já não concorre a um novo mandato como chefe de Estado nas eleições gerais de agosto, mas mantém-se como presidente do MPLA, partido no poder desde a independência de Angola.
Questionado sobre quais as principais diferenças no estilo de governação entre o atual chefe de Estado e a que pretende implementar, caso seja eleito - por via indireta -, o candidato do MPLA disse que apesar de serem ambos do mesmo partido, haverá sempre diferenças, algumas delas já visíveis em tempo de campanha eleitoral.
"Costuma-se dizer que duas cabeças são duas sentenças, embora sejamos ambos da mesma família política, pertençamos ao mesmo partido, mas é verdade que não podemos querer pretender que tenhamos um estilo de governação exatamente igual, haverá diferenças com certeza", afirmou.
Transferindo a responsabilidade de avaliação para a sociedade, João Lourenço disse que, para os mais avisados, "mesmo neste curto período", já devem ter notado "que há pequenas diferenças".
"Mas o haver diferenças não é mal nenhum, antes pelo contrário, é bom que haja, há quem veja nisso: bom se há diferenças é porque há desvios, não há desvios, o importante é que não haja desvio dos grandes objetivos do MPLA. Mais bem-estar para as populações, mais liberdades democráticas" são os grandes objetivos do MPLA, que "pode ser conseguido utilizando estilos de governação diferentes", considerou João Lourenço.
O também vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), lembrou que havia igualmente outra questão levantada por alguns críticos "dentro e fora do partido", que consideravam que o Presidente José Eduardo dos Santos "está no poder como Presidente da República em funções do Estado há tempo demasiado".
"Ele vai largar voluntariamente essa responsabilidade de presidente e precisamos de recordar que a Constituição e a lei só estabelece mandatos para funções no aparelho do Estado", disse, lembrando que a Constituição e outros diplomas legislativos não estabelecem mandatos para funções na direção dos partidos políticos.
Instado a dizer se o MPLA caso vencer as eleições pode vir a alterar a Constituição da República em vigor, de 2010, João Lourenço considerou prematuro avançar se há ou não essa intenção.
"O que tenho apenas a dizer é que a Constituição que está em vigor, que não foi imposta, foi aprovada pela Assembleia Nacional, e considero imprudente e prematuro dizermos se temos ou não a intenção de fazer alterações à Constituição", concluiu.